A conferência da ONU sobre biodiversidade (COP15) concluiu sua primeira etapa de negociações nesta sexta-feira (15) na China, que coordena os esforços para alcançar um acordo que melhore a proteção da natureza e permita maiores compromissos financeiros.
A COP15 tem a meta de anunciar um marco de proteção mundial para preservar os ecossistemas, fundamentais para ter água potável, ar limpo, alimento e matérias-primas, até 2030. E conseguir “viver em harmonia com a natureza” em 2050.
A proteção da natureza, que durante muito tempo foi considerado um assunto menor, está ganhando espaço (aos poucos) na agenda política internacional.
A primeira etapa da COP15 aconteceu na cidade chinesa de Kunming (sudoeste), em boa parte por videoconferência. A segunda parte deve acontecer em 2022 e as autoridades esperam um evento presencial. O formato virtual foi adotado devido à pandemia de coronavírus. Uma reunião prévia será organizada na Suíça.
Na quarta-feira, a conferência adotou a Declaração de Kunming, texto promovido pela China que defende ideias como a “civilização ecológica”.
Em parte, o texto retoma os objetivos que os 196 países membros da Convenção sobre a Biodiversidade (CDB) negociarão em janeiro em Genebra, na introdução da segunda parte da COP15.
A declaração reflete o objetivo de proteger 30% do planeta até 2030, mas sem especificar se Pequim a apoia.
Esta posição “nos dá uma ideia do tipo de liderança que a China propõe”, declarou à AFP Li Shuo, do Greenpeace.
A China, que desde segunda-feira presidente oficialmente a COP15, “tem um papel extremamente importante”, explica Lin Li, do WWF.
“A liderança do país anfitrião é essencial para um resultado frutífero, define o nível de ambição necessário para resolver a crise da biodiversidade e soma alianças necessárias para este objetivo”, completa Li.
Também recorda que a China assumiu compromissos importantes na luta contra a mudança climática.
Para Julien Rochette, do centro francês IDDRI, esta declaração permite “retomar o impulso político que gostaríamos de ver traduzido no texto das negociações”.
Além disso, a COP15 registrou a apresentação de programas para financiar a proteção da biodiversidade. A China anunciou um fundo destinado aos países em desenvolvimento de 233 milhões de dólares. E o Japão prometeu injetar quase 16 milhões de dólares.
A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) calcula as necessidades econômicas para proteger a biodiversidade entre 722 bilhões e 967 bilhões de dólares até 2030, mas destaca que apenas de 124 bilhões a 143 bilhões de dólares são dedicados ao tema. E outros US$ 500 bilhões servem a subsídios que prejudicam a natureza.
Os anúncios constituem um “começo tímido”, considera Li Shuo, do Greenpeace, que pede transparência nos fundos chineses: “como será administrado, como completará os instrumentos financeiros que já existem e durante quanto tempo”. Para alguns países, o Fundo para o Meio Ambiente Mundial (FEM) é a ferramenta mais apropriada para financiar as ações a favor da biodiversidade.
Todos os olhares estão voltados agora para Genebra e as duas semanas e meia de negociações presenciais. “Mas faltam compromissos, não teremos um plano forte para proteger a biodiversidade na primavera (hemisfério norte) se não construirmos a partir de agora”, alerta Shuo.
Há dúvida sobre a organização da segunda parte da COP na China. Alguns analistas consideram pouco provável que o país se arrisque a receber milhares de pessoas de todo o planeta para as negociações devido ao medo da covid-19. Alguns acreditam que o encontro pode ser transferido para Montreal (Canadá). Para outros, ao contrário, Pequim pode obter uma vitória se organizar a COP da maneira como está previsto.