Tarifaço de Trump contra Brasil é criticado por Paul Krugman: “Motivo de impeachment”

Economista Nobel afirma que medida é política e coloca Brasil e China no centro das tensões comerciais com os EUA

(Foto: Reprodução)

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros continua repercutindo em escala global. Agora, o alerta veio de um dos economistas mais respeitados do mundo: o americano Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008.

Em publicação recente no jornal The New York Times, Krugman classificou a medida como “diabólica e megalomaníaca” e afirmou que o tarifaço anunciado contra o Brasil é “motivo suficiente para um processo de impeachment”. Para ele, o aumento das tarifas não tem justificativa econômica plausível e serve apenas a objetivos políticos.

“Trump mal finge ter uma justificativa econômica para essa ação. Tudo isso tem a ver com punir o Brasil por colocar Jair Bolsonaro em julgamento”, escreveu Krugman em tom crítico. O economista foi ainda mais incisivo ao afirmar que os Estados Unidos estariam usando tarifas “para combater a democracia”.

O comentário ocorre em meio à cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, em que Brasil e China reforçaram uma parceria estratégica, especialmente diante das pressões externas lideradas por Washington.

Brasil e China no centro da disputa

Para especialistas, as críticas de Krugman reforçam um diagnóstico já feito por analistas brasileiros e chineses: o aumento das tarifas não é um gesto isolado, mas parte de uma disputa mais ampla envolvendo o fortalecimento do BRICS e as tentativas do bloco de buscar alternativas à hegemonia do dólar.

Comércio exterior e diplomacia econômica tornaram-se peças centrais nessa equação. Dados do Ministério da Agricultura mostram que, apenas em 2024, as exportações brasileiras para a China ultrapassaram US$ 100 bilhões, enquanto para os EUA ficaram em torno de US$ 35 bilhões.

Impacto real e reação diplomática

Na prática, o tarifaço anunciado por Trump impacta principalmente setores como aço, petróleo e aeronaves — todos com forte peso nas exportações brasileiras e, em parte, também integrados às cadeias produtivas da China. Desde o anúncio, a diplomacia chinesa já expressou apoio público ao Brasil, acusando Washington de “coerção e intimidação econômica”.

Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotaram tom cauteloso, mas já articulam medidas para minimizar os efeitos sobre as empresas brasileiras, enquanto ampliam o diálogo com parceiros asiáticos.

Pressão política interna nos EUA

Krugman destaca ainda que a medida pode ter desdobramentos dentro dos próprios Estados Unidos. “Esse tipo de abuso da política tarifária para fins pessoais e políticos é motivo suficiente para impeachment. Está escrito no manual”, afirmou em sua coluna.

Embora Trump mantenha forte apoio entre setores conservadores, a pressão internacional e a crítica de figuras como Krugman podem alimentar o debate eleitoral em curso nos EUA, especialmente considerando as eleições presidenciais de 2026.

Multipolaridade e o papel do Brasil

Para o professor Felipe Loureiro, da USP, o episódio reforça o papel do Brasil em um mundo cada vez mais multipolar. “A reação de Krugman mostra que mesmo dentro dos Estados Unidos há vozes críticas a esse tipo de política agressiva. O Brasil, junto com a China, precisa aproveitar esse momento para reforçar sua posição em fóruns multilaterais e buscar diversificar mercados.”

No cenário atual, Brasil e China continuam a se posicionar como parceiros-chave no esforço por um sistema internacional mais equilibrado — e, agora, também como alvos conjuntos de medidas protecionistas que vão além da economia, envolvendo disputas políticas e ideológicas globais.

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