O primeiro-ministro da Sérvia, Miloš Vučević, renunciou no último dia 27 de janeiro, buscando acalmar as crescentes tensões políticas geradas por meses de protestos contra a corrupção. A decisão ocorre em um momento de instabilidade política no país, após manifestações que começaram em novembro de 2024, quando o telhado de uma estação de trem em Novi Sad desabou, matando 15 pessoas. O acidente, que causou indignação em todo o território sérvio, foi rapidamente associado à má gestão pública e à corrupção, e se tornou um catalisador para protestos generalizados contra o governo. As informações são do jornal The Guardian.
Os protestos foram liderados principalmente por estudantes de universidades públicas, que exigiram respostas claras sobre as causas do desastre e a responsabilização dos envolvidos. Além de bloqueios de estradas e manifestações em diversas cidades, os estudantes também organizaram acampamentos nas faculdades, reforçando seu apelo por maior transparência governamental. O movimento rapidamente ganhou apoio de outros grupos da sociedade, incluindo cidadãos comuns, funcionários públicos e membros do judiciário, refletindo um descontentamento generalizado com o governo do presidente Aleksandar Vučić e seu partido, o Partido Progressista Sérvio (SNS).
Renúncia como tentativa de apaziguar a situação – A renúncia de Vučević foi anunciada após um episódio de violência envolvendo manifestantes, quando uma estudante foi agredida por supostos membros do SNS em Novi Sad. “Faço um apelo para que todos acalmem os ânimos e voltem ao diálogo”, declarou o ex-primeiro-ministro em coletiva de imprensa. “O prefeito de Novi Sad, Milan Đurić, também estava prestes a renunciar”, complementou Vučević.
Apesar de sua saída, o líder político vinculou os protestos a uma suposta interferência estrangeira, sem fornecer provas. “Eu nunca justificaria ou entenderia muitos desses protestos, bloqueios da vida, das estradas e da liberdade de movimento de outros cidadãos”, afirmou. A imprensa sérvia especula que sua renúncia seja uma tentativa de mitigar a raiva popular e a pressão sobre o governo, especialmente após o desastre em Novi Sad, que abalou ainda mais a imagem da administração Vučić.
O futuro da Sérvia e as implicações para a oposição – Com a renúncia de Vučević, a Sérvia se encontra em um momento de incerteza política. O presidente Vučić, que comanda o país de maneira autoritária, terá que decidir, dentro de 30 dias, se nomeará um novo primeiro-ministro ou convocará eleições antecipadas. Em uma análise sobre o cenário político, Marta Szpala, pesquisadora do Centro de Estudos Orientais em Varsóvia, indicou que a renúncia poderia ser uma estratégia para retomar o controle da situação. “Alternativamente, ele pode convocar uma eleição antecipada, buscando retomar o controle da narrativa e tirar proveito de um movimento social descentralizado e muito diverso por trás dos protestos”, disse Szpala.
O impacto dos protestos também levantou questões sobre a democracia na Sérvia, com críticos apontando que a renúncia de Vučević pode não ser suficiente para encerrar as manifestações. Branimir Jovančićević, ex-deputado da oposição, afirmou que a troca de um único líder não resolverá o problema. “Se o presidente acha que substituindo uma figura, essencialmente, irrelevante… [ele] resolverá o problema… ele está profundamente equivocado”, comentou Jovančićević à Associated Press.
Outros observadores sugerem que os protestos podem sinalizar uma mudança nas marés políticas da Sérvia. O ex-diplomata norte-americano Edward Joseph observou nas redes sociais que até juízes, figuras proeminentes do serviço público, se uniram aos manifestantes, o que reflete uma mudança na dinâmica política do país: “O fator medo desapareceu. Mesmo em uma democracia degradada nos Bálcãs, o povo ainda tem poder e pode exigir responsabilização.”
