O mercado brasileiro de celulares, dominado há anos por Samsung e Motorola, pode estar prestes a passar por uma reviravolta. A chinesa OPPO, quarta maior fabricante global de smartphones, anunciou que pretende alcançar a vice-liderança entre os aparelhos Android no Brasil — o que significa abocanhar cerca de 20% do mercado, hoje dividido principalmente entre suas rivais coreana e americana.
O potencial do mercado brasileiro
O Brasil é o quarto maior mercado de smartphones do mundo, com mais de 40 milhões de unidades vendidas em 2024. O país vive um processo de consumo em ascensão, impulsionado pelo aumento do salário mínimo (R$ 1.518 em 2025) e pela popularidade das compras parceladas. Isso torna atraente a faixa de preços que a OPPO pretende atacar: celulares médios entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, acessíveis a milhões de trabalhadores da chamada nova classe média.
Além disso, a América Latina é a região onde as exportações de celulares chineses mais crescem, com taxa anual acima de 10%. Diante do cenário de margens comprimidas em mercados como Índia e Sudeste Asiático, o Brasil aparece como a grande aposta de rentabilidade.
Estratégia local: da fábrica às lojas
Para entrar com força, a OPPO fechou uma parceria com o grupo Multi (antiga Multilaser), gigante brasileira da eletrônica de consumo. O acordo garante três vantagens estratégicas:
- Produção nacional em Manaus, escapando de impostos de importação que podem chegar a 60%.
- Rede de vendas com mais de 40 mil pontos de distribuição em todo o país.
- Conhecimento de mercado, fruto de décadas de atuação da Multi junto ao consumidor brasileiro.
A OPPO também anunciou planos para estar presente em 3 mil lojas até 2026, incluindo redes como Magalu e Casas Bahia, além de operadoras como a Claro. Já inaugurou 20 centros de assistência rápida, prometendo reparos em até 1 hora, e trabalha em modelos de celulares desenvolvidos especialmente para o Brasil.
O desafio cultural: vender mais que um celular
No entanto, analistas apontam que o sucesso da OPPO dependerá de mais do que preço competitivo e ampla distribuição. No Brasil, o vendedor de loja tem papel decisivo na escolha do consumidor. Ganhar a preferência desses profissionais pode exigir programas de incentivo criativos, reconhecimento público e até experiências exclusivas, como viagens e treinamentos diferenciados.
Outro caminho é transformar o celular em símbolo de estilo de vida. Em vez de competir no patrocínio de grandes eventos esportivos — território já ocupado por rivais —, a OPPO pode se aproximar de semana de moda, música eletrônica, gastronomia e artes visuais, posicionando seus aparelhos como sinônimo de design, criatividade e status social.
A aposta no pós-venda
No Brasil, o atendimento ao cliente é um dos maiores pontos de frustração. A OPPO estuda políticas ousadas, como troca imediata de aparelhos com defeito ou conserto de tela em até uma hora — práticas que, se bem executadas, podem gerar forte impacto positivo nas redes sociais e no boca a boca.
Um jogo difícil, mas promissor
A OPPO chega com recursos, estratégia e ambição. Ainda assim, enfrenta rivais consolidadas, como a Samsung, que responde por 43% do mercado, e a Motorola, com 23%. O desafio é enorme: convencer milhões de brasileiros a trocarem de marca e, ao mesmo tempo, construir uma reputação sólida em um país onde consumidores valorizam tanto preço quanto status e confiança.
Se conseguir transformar seus smartphones em objeto de desejo, associado à inovação e ao estilo de vida, a OPPO poderá não apenas conquistar espaço no Brasil, mas também consolidar a América Latina como seu próximo grande pilar global.