Nesta quinta-feira (11), os EUA atingiram diversos alvos militares no Iêmen, especialmente contra pontos de controle militar do Ansarallah, o partido dos houthi, que governa uma parte do país – que tem uma guerra civil congelada.
Desde o fim de 2023, os houthi, que ficam na parte sul do Iêmen, têm atacado embarcações de bandeira ou tripulação israelense, e nos últimos meses, fechado completamente a passagem do Mar Vermelho, um dos pontos mais importantes da logística mundial que conecta a Ásia ao continente europeu.
“Essas investidas são uma resposta direta aos ataques sem precedentes dos Houthis contra navios marítimos internacionais no mar Vermelho – incluindo a utilização de mísseis balísticos antinavio [míssil designado para uso contra navios] pela 1ª vez na história”, declarou Biden nesta quinta.
O ataque dos EUA – em parceria com o Reino Unido – atingiu 73 alvos em Sanaa, Hodeidah, Hajjah e Saida, deixando cinco mortos e seis feridos.
Os houthis, claro, responderam.
“Os inimigos americanos e britânicos têm total responsabilidade pela sua agressão criminosa contra o povo iemenita, e esta não escapará sem retaliação e punição. As Forças Armadas do Iêmen não hesitarão em atacar fontes de ameaça e todos os alvos hostis em terra e no mar, defendendo Iêmen, sua soberania e independência”, afirma Yahya Saree, general do grupo.
O que o Iêmen queria
O Iêmen seguirá mantendo sua operação de maneira intensa no Mar Vermelho e continuará atacando os israelenses. Ataques aéreos com armas dos EUA são uma realidade há décadas para o Ansarallah. Não irão atrapalhá-los.
A intervenção, claro, é apoiada pelo Conselho de Segurança da ONU, cujos membros perdem com o fechamento do Canal de Suez e precisam manter suas cadeias de produção e venda em operação.
Para o Iêmen, a declaração dos EUA e a notícia do fato é a vitória. Há dez anos – com uma breve interrupção neste ano – chovem bombas dos EUA no solo dos houthis.
Durante a guerra civil (que está congelada), os houthis combateram contra a coalizão saudita financiada pelos EUA. Nunca houve grande repercussão. Finalmente, eles controlam o caminho do meio do mundo. Desde o início do ano, o grupo tem tentado atacar frotas estadunidenses para provocar Washington. Agora, conseguiram.
O Ansarallah consegue tirar da boca dos americanos que irão atacá-los, coisa que em décadas de guerra civil não foi possível. O apoio dos EUA às forças pró-ocidente do Iêmen, simbolizadas na figura o presidente iemenita Rashad al-Alimi, sempre foi tácito. Agora, é claro.
Obviamente, os houthi vão atacar, os EUA vão atacar ainda mais, e as tensões na região seguirão crescendo, agora, dividindo os países árabes do golfo (Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos e a Jordânia), que devem decidir se apoiam as populares empreitadas dos iemenitas contra Israel ou se mantém o apoio à sua impopular coalizão no sul do país.
Assim como os ataques de 7 de outubro do Hamas conseguiram objetivos políticos, as intervenções houthis no Mar Vermelho também têm fins similares: escancarar o papel dos EUA na guerra e questionar a conivência de diversos países árabes com a máquina de guerra ocidental na região.