Musk e Trump fazem tabelinha fracassada nas redes

Musk faz campanha ativa por Trump em sua rede social. Créditos: Reprodução X

“Eu penso que você é o caminho para a prosperidade e a Kamala é o oposto”, disse a certa altura o bilionário Elon Musk, dono da Tesla, da Space X e do X, o ex-Twitter, ao candidato republicano Donald Trump.

Foi numa conversa de áudio no X.

O evento começou com 45 minutos de atraso. Musk disse que a plataforma foi alvo de um ataque.

O analista de dados Edgard Piccino, da Revista Fórum, observou que isso “é péssimo para o Xwitter, porque ele deveria ser capaz de conter um ataque de DDoS. Há técnicas e ferramentas para isso”.

Piccino lembrou que Musk mandou remover de sua plataforma o software que causou um apagão global de computadores, em 19 de julho último:

“O Musk fica administrando seu negócio como se fosse um brinquedinho, quis “lacrar” e mandou tirar o CrowdStrike do Xwitter, o que deixou a plataforma bem mais vulnerável a ataques.”

FRACASSO MOMENTÂNEO

Quando a conversa começou, atingiu 1,1 milhão de ouvintes simultâneos.

Trata-se de um fracasso momentâneo de público, uma vez que Musk tem 194 milhões de seguidores em sua própria rede e Trump, 89 milhões.

Tanto Trump quanto Musk promoveram o áudio e cortes dele depois que a conversa de mais de duas horas terminou.

O evento marcou a volta do republicano ao X, do qual havia sido suspenso em 8 de janeiro de 2021, “devido ao risco de mais incitação à violência”.

Dois dias antes, uma multidão de trumpistas invadiu o Capitólio na tentativa de impedir que a vitória eleitoral de Joe Biden fosse certificada.

Donald Trump criou sua própria rede, o Truth Social, e manteve sua conta no X inativa mesmo depois que o Twitter foi comprado por Musk, rebatizado e a conta do republicano desbloqueada.

O republicano, em baixa nas pesquisas, usou a ocasião para atacar a democrata Kamala Harris, a quem definiu como “lunática de extrema-esquerda”.

Em nota, assessores de Kamala Harris reagiram:

“Toda a campanha de Trump está a serviço de pessoas como Elon Musk e Trump – caras ricos, obcecados por si próprios, que venderão a classe média depois das eleições e que não conseguem nem fazer um livestream em pleno ano de 2024.”

TROCA DE FAVORES

A conversa com Trump, que  Musk promoveu incessantemente durante o dia, cristalizou o papel do bilionário como promotor das ideias da extrema-direita.

Os dois são ávidos marqueteiros de seus próprios interesses.

A certa altura, Trump chegou a dizer que a previsão de Musk, de que 25 milhões ouviriam a conversa dos dois de maneira simultânea, tinha sido modesta, uma vez que o número havia atingido 60 milhões — uma óbvia fake news.

Depois de atacar os carros elétricos como caros e ineficazes, fazendo disso parte de sua plataforma de campanha, Trump moderou sua posição por causa do apoio de Musk.

O engajamento do bilionário em causas da extrema-direita é notório.

Antes e durante as eleições de 28 de julho na Venezuela, Musk promoveu a chapa de oposição encabeçada por Maria Corina Machado.

Isso levou o governo de Nicolás Maduro a denunciá-lo como autor de tentativa de golpe, uma vez que contas do X promoveram uma enxurrada de fake news e, sempre segundo Maduro, “promoveram o ódio”, além da tese de que houve fraude.

O X foi suspenso por dez dias no país.

No Reino Unido, Musk chegou a promover fake news segundo a qual o governo britânico prenderia num campo de concentração nas ilhas Malvinas os arruaceiros de extrema-direita que atacaram imigrantes nas ruas.

A violência teve origem em outra fake news: a de que um imigrante muçulmano recém-chegado seria o autor de um ataque a faca que matou três meninas em 29 de julho.

Axel Rudakubana, de 17 anos de idade, autor dos homicídios, na verdade é britânico de uma família cristã originária de Ruanda.

Por conta disso, antes de sua conversa com Trump no X, Elon Musk recebeu uma advertência de Thierry Breton, comissário europeu para assuntos do mercado interno:

“Estamos monitorando os riscos potenciais na União Europeia associados à divulgação de conteúdos que possam incitar à violência, ao ódio e ao racismo ligados a grandes eventos políticos ou sociais em todo o mundo, incluindo debates e entrevistas no contexto de eleições.”

O X tem cerca de 50 milhões de usuários ativos na UE.

Embora tenha potencial para disseminar o ódio, a eficácia eleitoral do X é questionável, uma vez que a plataforma atinge uma fatia específica de usuários mais jovens.

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