Muito além do aroma do baijiu: Luzhou aposta na cultura para impulsionar o turismo

Cidade portuária no encontro de Sichuan, Yunnan, Guizhou e Chongqing transforma patrimônio e saberes tradicionais em novos motores econômicos.

Foto: Yasmin Yan.

Localizada na confluência de Sichuan, Yunnan, Guizhou e Chongqing, a cidade de Luzhou é conhecida há décadas como a “cidade do vinho” da China, graças à sua tradição na produção de baijiu. Mas, à medida que o rio Yangtzé atravessa a região, fica claro que o encanto local vai muito além do álcool. Partindo de recursos culturais enraizados no território e apostando na combinação entre “proteção + inovação”, o município vem transformando valor cultural em valor econômico, criando o que autoridades locais descrevem como um “modelo Luzhou” de desenvolvimento integrado entre cultura e turismo.

Ao chegar à cidade de Xianshi, no condado de Hejiang, o visitante é recebido por um leve aroma de molho de soja no ar. Ali está instalado o mais antigo campo de fermentação a céu aberto em uso contínuo na China, preservado em excelente estado, junto a antigos ateliês de produção artesanal de shoyu. A técnica tradicional de fabricação da marca Xianshi, que combina sol, tempo e métodos manuais, integra hoje a lista de Patrimônio Cultural Imaterial de nível nacional. Para explorar plenamente esse ativo, o condado abriu uma nova frente na rota “indústria + turismo”, investindo 2 bilhões de yuans na construção do Xianshi Soy Sauce Chishui River Manor, um complexo imersivo que reúne produção ecológica, transmissão de técnicas de patrimônio imaterial, roteiros de estudo, visitas interativas e experiências de compra no mesmo espaço.

Foto: Zhang Lang.

Além de preservar o método tradicional, o parque apostou em produtos cruzados, como sorvete de shoyu e café com shoyu, dando ao condimento um novo papel como símbolo de consumo cultural entre o público jovem. Caminhando pelo espaço, mais de 20 representantes de mídias chinesas no exterior, vindos de diferentes países, não paravam de fotografar e gravar vídeos. Para Ren Chuangong, presidente da Australian Chinese TV Media, o modelo “patrimônio imaterial + turismo” transforma uma antiga técnica artesanal em uma cena turística tangível e interativa, criando um ciclo virtuoso em que proteger também significa desenvolver. Na visão dele, justamente o caráter inusitado de produtos como o sorvete e o café de shoyu pode ser uma porta de entrada para o público internacional conhecer melhor a riqueza da culinária chinesa e, ao mesmo tempo, apoiar a internacionalização da marca Xianshi.

A mesma lógica de “ativar” recursos culturais está por trás da construção do Parque Ecológico Cultural da Ponte Longqiao, em Luxian. Tendo como núcleo a Longnao Bridge – maior ponte de lajes de pedra esculpidas em dragões do país e unidade de proteção de relíquias culturais em nível nacional –, o projeto prevê um complexo rural de cultura e turismo com 21,3 quilômetros quadrados. A área combina “marco cultural + base ecológica + cenários de consumo”, integrando paisagem, história e economia em uma única experiência. Com mais de 600 anos de história, a antiga ponte deixa de ser um vestígio isolado do passado para se tornar um verdadeiro “motor de fluxo”, capaz de atrair visitantes, gerar renda e impulsionar a revitalização das comunidades rurais ao redor.

Foto: Yasmin Yan.

Para Li Shihai, vice-editor-chefe da ASEAN Headline News Agency, esse modo de pensar o desenvolvimento rompe com a ideia, ainda comum em muitos lugares, de “proteger muito e desenvolver pouco”. Em Luzhou, observa ele, cultura e ecologia não são tratadas como peças de museu, mas transformadas em estilos de vida que podem ser vivenciados e consumidos. Essa abordagem, que combina cuidado patrimonial com dinamismo econômico, oferece referências importantes para regiões do Sudeste Asiático que também buscam integrar turismo, cultura e sustentabilidade.

Na prática, os exemplos de Xianshi e da Longnao Bridge são apenas uma amostra do esforço de Luzhou para explorar novas rotas de integração entre cultura e turismo. A cidade vincula sua estratégia à construção de um hub logístico nacional de perfil portuário e de um centro regional de saúde e medicina, além da formação de um polo mundial de baijiu de alta qualidade. Ao mesmo tempo, participa ativamente da criação do trecho de Sichuan do Parque Cultural Nacional do Yangtzé, aprofundando a pesquisa e a apresentação dos recursos culturais ligados ao grande rio e estruturando um portfólio de 37 projetos relacionados. Dos 121 projetos culturais e turísticos em implementação, com investimento total estimado em 154,108 bilhões de yuans, 52 já foram concluídos e estão em operação, incluindo o Teatro de Luzhou e o complexo turístico Yaoba Yi. A meta é que, até 2027, o gasto total de visitantes na cidade ultrapasse 100 bilhões de yuans.

Para Zheng Haiyan, vice-diretora do jornal Venezuelan Chinese News, o caminho de Luzhou passa por manter vivas as raízes locais e, ao mesmo tempo, ampliar o olhar internacional. Ela defende que os “tesouros” da cidade sejam apresentados ao mundo como parte integrante da civilização chinesa, permitindo que o desenvolvimento urbano combine a força do crescimento econômico com o calor da transmissão cultural. Assim, Luzhou pode se tornar não apenas um destino turístico, mas também uma janela para que o público estrangeiro conheça melhor a China contemporânea.

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