O presidente da Argentina, Javier Milei, pretende propor aos demais membros do Mercosul uma negociação conjunta para um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Caso Brasil, Uruguai e Paraguai não aceitem a proposta, o governo argentino pode buscar uma flexibilização das regras do bloco para negociar diretamente com Washington. A informação foi divulgada pelo jornal O Globo e reforça a guinada ultraliberal da política externa de Milei, alinhada ao presidente americano Donald Trump.
A tentativa de estreitar laços com os EUA ocorre em um momento de forte disputa geopolítica na América do Sul, onde a China tem expandido sua presença como principal parceira comercial da região e os BRICS buscam consolidar uma agenda de integração econômica. As regras atuais do Mercosul determinam que qualquer negociação de redução de tarifas de importação deve ser feita em conjunto, mas Milei defende uma revisão desse modelo para permitir um tratamento preferencial aos produtos americanos.
A proposta será discutida ainda nesta semana em reuniões de coordenadores do Mercosul, em Buenos Aires. Como a Argentina ocupa a presidência rotativa do bloco neste semestre, o governo Milei pretende levar o tema à próxima cúpula de líderes. No entanto, há forte resistência interna à mudança, especialmente por parte do Brasil, que vê o fortalecimento dos BRICS como uma alternativa estratégica ao eixo de influência norte-americano.
A disposição de Trump em discutir um acordo foi manifestada na última semana. Em entrevista, o republicano elogiou Milei e deu sinais de que poderia abrir espaço para negociações. “Considerarei qualquer coisa. E a Argentina, sem dúvida, acho que ele (Milei) é genial. Acho que ele é um grande líder. Está fazendo um ótimo trabalho. Está fazendo um trabalho fantástico. Ele resgatou o país do esquecimento”, disse o presidente dos EUA.
Apesar da ofensiva argentina por uma aproximação com os EUA, a relação com o Brasil segue ativa em temas como comércio, investimentos, cooperação nuclear e defesa. Entretanto, as divergências políticas entre Milei e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm travado o diálogo diplomático direto entre os dois países. Segundo uma fonte ligada ao governo argentino, a falta de comunicação entre os presidentes não afeta a agenda bilateral, mas há pontos que foram postergados, como as negociações sobre comércio automotivo, investimentos e cooperação em setores estratégicos.