Durante discurso na 17ª Cúpula do BRICS, realizada nesta quarta-feira (16) no Rio de Janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que o Brasil defende o diálogo e a negociação como caminhos para a solução de conflitos internacionais, mas não aceita imposições externas. A declaração surge em meio a crescentes tensões comerciais e diplomáticas envolvendo os Estados Unidos, União Europeia e o próprio BRICS, do qual fazem parte Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
“O Brasil sempre estará aberto ao diálogo e à negociação. Mas diálogo só existe entre iguais. E o Brasil não aceitará imposições de ninguém”, afirmou Lula, enfatizando a importância da multipolaridade na ordem global e defendendo o papel do BRICS como articulador de uma governança internacional mais justa.
A fala de Lula acontece dias depois de o governo norte-americano, sob a gestão de Donald Trump, ter anunciado tarifas de 50% contra produtos brasileiros e aberto investigação comercial contra o país, como parte de uma ofensiva também direcionada à China e à Índia. Em paralelo, líderes da OTAN têm sinalizado sanções ao Brasil caso siga ampliando relações comerciais com a Rússia.
Independência diplomática e relações Sul-Sul
Lula reforçou que o Brasil manterá sua política externa independente, voltada à defesa da soberania e da autodeterminação dos povos. “Não estamos subordinados a qualquer bloco ou potência. Dialogamos com todos, mas preservando nossos interesses”, disse.
Nesse contexto, o presidente reiterou o compromisso brasileiro com a cooperação Sul-Sul, incluindo parcerias estratégicas com a China. A interlocução sino-brasileira foi citada como exemplo concreto da busca por uma ordem multipolar. “Com a China, temos construído projetos na área de energia, ciência e tecnologia, agroindústria e infraestrutura, sempre com respeito mútuo”, afirmou.
Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela Agência Brasil China, o governo brasileiro vê no atual cenário global — marcado por disputas entre grandes potências — uma oportunidade para fortalecer relações com países do BRICS e outros parceiros do Sul Global, buscando reduzir a dependência dos mercados tradicionais ocidentais.
Integração financeira e Nova Governança Global
Em seu discurso, Lula também abordou a necessidade de fortalecer mecanismos financeiros alternativos. Ele defendeu a ampliação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do BRICS, e de iniciativas para o uso de moedas locais no comércio entre os países-membros, como forma de diminuir a dependência do dólar.
“Nós queremos um sistema financeiro internacional que atenda às necessidades dos países em desenvolvimento, que financie a transição energética, a superação da pobreza e a redução das desigualdades”, declarou o presidente.
Repercussão e próximos passos
A postura brasileira foi bem recebida pelos demais membros do BRICS. O primeiro-ministro da China, Li Qiang, e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, expressaram apoio à defesa da multipolaridade e elogiaram o papel do Brasil como mediador e articulador em fóruns multilaterais.
Especialistas em política internacional avaliam que o discurso de Lula reflete uma estratégia pragmática de reafirmação da soberania brasileira sem se alinhar automaticamente a qualquer uma das grandes potências. “O Brasil busca se posicionar como uma potência intermediária, evitando confrontos diretos, mas mantendo uma postura firme em defesa de seus interesses”, afirma a professora de Relações Internacionais da FGV-SP, Ana Paula Oliveira.
A expectativa agora é que, nos próximos dias, a Cúpula do BRICS finalize um comunicado conjunto reforçando os princípios defendidos por Lula, incluindo o respeito à soberania, à igualdade entre nações e à busca por soluções negociadas para crises internacionais — especialmente no Oriente Médio e na Ucrânia.