Jovens devem liderar combate às mudanças climáticas, diz brasileiro que preside Y20

Jovens se encontram na pré-cúpula do Y20./ Foto: Divulgação

Primeiro presidente brasileiro do Youth20, ou Y20, fórum que reúne jovens de todo mundo para acompanhar os trabalhos do G20, Marcus Barão vai comandar a cúpula que pedirá urgência a temas que impactam diretamente o futuro de cada um deles, em especial as mudanças climáticas.

“A grande diferença nessa pauta hoje a percepção de urgência. A população jovem ela é mais afetada, então ela sente e de uma maneira muito mais latente essas pressões e a sensibilidade desses temas, mas ao mesmo tempo ela tem se colocado de uma maneira muito avançada nos debates, né? Pra além de de protocolos ou de amarras políticas ou geopolíticas. Então tem se colocado de uma maneira muito corajosa nesses debates, apontando quais são as decisões difíceis que a gente precisa tomar e do que que a gente precisa abrir mão, o que que a gente precisa mudar em termos de modelo de consumo, de produção para que a gente consiga realmente ter alguma perspectiva de futuro que seja possível, seja feliz, seja inclusiva para todas as pessoas”, afirmou em entrevista exclusiva à Fórum.

Marcus Barão, primeiro presidente brasileiro do Y20 (Divulgação)

A delegação do Brasil é formada ainda por Philippe Silva, Mahryan Sampaio, Daniela Costa, Leandro Corrêa e Guilherme Rosso, e vai liderar os debates com as comitivas de todo o mundo que se reúnem no Rio de Janeiro a partir deste sábado (10).

Os encontros, que acontecem até o próximo dia 17, resultarão em um documento que será entregue aos chefes de Estado na Cúpula do G20 em novembro com a perspectiva das juventudes sobre os principais desafios globais.

Leia a entrevista na íntegra

FÓRUM: De onde partiu a ideia de criação do Y20 e em que, de fato, o grupo atua junto ao G20?

Marcus Barão: O Y20 é o grupo oficial da juventude do G20, ele se organiza como um grupo de engajamento dos treze grupos oficiais de engajamento do G20. O Y20 surgiu em 2010, sendo um dos grupos mais antigos e consolidados do G20. O Y20 surgiu, inclusive, antes do C20 e do T20, por exemplo, que são grupos muito bem posicionados na sociedade, que tem uma interlocução bastante relevante dentro do G20.

Acho que isso é muito um reflexo de uma característica presente ao longo da história nas juventudes, que é essa vontade, esse anseio de participar, de ser protagonista, de ocupar os espaços, tomar as decisões, reivindicar esses espaços.

Aliás, acho que não tem nenhum momento importante da história — sobretudo aqui do Brasil, mas no mundo inteiro — de luta, de resistência, de revolução, que a juventude não tenha sido linha de frente, não tenha sido protagonista.

Então, acho que, naturalmente, isso também se reflete em espaços como o G20. Desde 2010, o grupo de juventude tem atuado organizando esse segmento da sociedade, construindo consensos no diálogo entre todas as delegações de lideranças jovens dos países membros, blocos regionais e países convidados e, a partir disso, construindo por meio desse consenso um documento que vira o instrumento para que a gente possa incidir na de líderes e naquilo que é também tomado de decisão, que é apresentado como consenso dentro desse que é o principal fórum de cooperação econômica pro desenvolvimento do desenvolvimento social do planeta.

FÓRUM: Qual o principal – ou os principais temas – que devem atrair mais a atenção dos jovens que participam do grupo?
Marcus Barão: A cada ano um país assume a presidência do G20 e, pela primeira vez na história, o Brasil assumiu essa posição. Isso se reflete também nos grupos de trabalho, nos grupos de engajamento. Então é também a primeira vez na história que o Brasil assumiu a presidência do Y20. A cada presidência é natural que que temas transversais sejam debatidos de maneira mais constante e perene, buscando algum avanço em determinadas agendas, mas a cada presidência também existe a liberdade de se propor temas específicos.

Para a presidência os principais temas são cinco e esses são: mudanças climáticas e transição energética sustentável; reforma do sistema de governança global; combate à fome, à pobreza e à as desigualdades; inclusão e diversidade; e inovação e futuro do mundo do trabalho.

Transversalmente, o papel da juventude como protagonista nesse tema, sejam as mais afetadas por esses desafios ou sejam também as que devem fazer parte da tomada de decisão das soluções, as juventudes elas tem o seu lugar. 
Para além disso, de uma maneira bastante ampla, tem a questão do financiamento global, seja a criação de um fundo global da juventude ou financiamento direto, o que envolve as juventudes nessa cinco temas prioritários, e, para dentro do G20, algo que é muito importante, é a luta pela pela ampliação dos espaços formais de discussão de juventudes, como a criação de um grupo de juventudes ministerial dentro do G20. 

Então acho que esses são os principais temas e, é claro que, desses cinco temas, a agenda de mudanças climáticas tem um contorno muito grande. Sobretudo porque no próximo ano o Brasil assume a presidência da COP, então esse é um tema muito central. A questão do combate à fome, com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que foi uma grande conquista da presidência brasileira, liberada pelo presidente Lula, também é muito importante pra gente. Então acho que todos esses cinco temas são prioritários para a juventude.

FÓRUM: Entre os principais temas do G20, a crise climática e a uberização e o subemprego em todo mundo influenciam diretamente a humanidade e a vida futura dos jovens que participam do debate. Em sua percepção, qual a diferença entre a abordagem desses temas por jovens e pelos atuais líderes mundiais?

Marcus Barão: Com certeza essas são duas agendas centrais, a crise climática e a questão da uberização e do subemprego em todo mundo. Elas afetam diretamente o presente e o futuro de toda a população jovem.

Quando a gente olha os principais indicadores sociais relacionados a esses temas e a gente faz um recorte por grupo sociais, a gente percebe que a população jovem é a mais afetada, especialmente a população que tradicionalmente, historicamente, é mais vulnerabilizada. Por exemplo, aqui no Brasil, é o caso da população preta, pobre, periférica. Historicamente, essa é a camada da população mais afetada aqui no Brasil.

A taxa de desemprego entre a população jovem é mais do que o dobro da taxa média da população geral e isso se replica em diferentes partes do mundo. A questão do trabalho e emprego, de que tipo de trabalho e emprego diante da precarização das relações de trabalho, é uma questão global.

Sobre a questão da crise climática, da justiça climática, acho que ela é, sem sombra de dúvidas, é decisiva, é urgente. Acho que a grande diferença nessa pauta hoje a percepção de urgência. A população jovem ela é mais afetada, então ela sente e de uma maneira muito mais latente essas pressões e a sensibilidade desses temas, mas ao mesmo tempo ela tem se colocado de uma maneira muito avançada nos debates, né? Pra além de de protocolos ou de amarras políticas ou geopolíticas. Então tem se colocado de uma maneira muito corajosa nesses debates, apontando quais são as decisões difíceis que a gente precisa tomar e do que que a gente precisa abrir mão, o que que a gente precisa mudar em termos de modelo de consumo, de produção para que a gente consiga realmente ter alguma perspectiva de futuro que seja possível, seja feliz, seja inclusiva para todas as pessoas.

Então acho que esse é o grande desafio da perspectiva que a gente tem aqui no debate das lideranças mundiais, existem outras questões sobretudo econômicas que atravessam esses temas e a percepção que a gente tem é que a juventude tenha um desprendimento maior, uma disposição maior pra fazer mudanças mais profundas e revolucionárias.

FÓRUM: O que deve ser debatido e proposto em relação a eles?

Marcus Barão: A juventude do G20 quer liderar os processos globais no combate às alterações climáticas, com ênfase na transição energética para o desenvolvimento sustentável. Existe um consenso sobre a necessidade urgente de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e priorizar fontes de energia renováveis, garantindo que esta transição seja equitativa e não agrave desigualdades sociais. Proteger o ambiente e a nossa biodiversidade é fundamental. É urgente preservar florestas, territórios indígenas e ecossistemas marinhos. Estamos prontos para liderar  esse processo, conscientizando nossa geração sobre a urgência deste momento. 

Nós defendemos a justiça climática e inclusão social para integrar as populações vulneráveis ??nas políticas climáticas e para isso reivindicamos um financiamento climático robusto para que as transformações necessárias tenham um impacto real, especialmente nos países em desenvolvimento, direcionando recursos de forma eficaz para adaptação e mitigação.

Além disso, enxergamos como fundamental a regulamentação das IAs ??e das tecnologias emergentes, para manter padrões éticos e proteger os direitos dos trabalhadores, estabelecendo condições de trabalho justas e equitativas.

A inclusão deve ser uma prioridade, a fim de garantir que a inovação tecnológica não agrave as desigualdades existentes e integrar e populações minoritárias no mercado de trabalho. Promover o desenvolvimento sustentável e inovações verdes deve ser um passo fundamental no futuro do trabalho, com empregos ambientalmente adaptados para mitigar os danos ambientais das indústrias.

Os avanços tecnológicos têm um potencial transformador significativo, mas é essencial orientar criticamente a inclusão de inovações como inteligência artificial e automação para garantir o futuro do trabalho. Há um consenso nosso sobre a necessidade de investir em educação e formação tecnológica para capacitar a juventude a prosperar neste mercado de trabalho cada vez mais dependente da tecnologia.

FÓRUM: O que espera do Y20 e da participação de jovens de todo mundo junto ao grupo dos 20 países mais influentes do planeta?

Marcus Barão: Olha, a gente está muito confiante com a presidência brasileira do Y20. Além das delegações internacionais, a gente tem feito um esforço muito grande de fortalecer os mecanismos de participação social, com uma construção ampla, plural, diversa. 

Só de diálogos regionais nós tivemos mais de 30 realizados do Brasil, onde milhares de jovens puderam participar, pela primeira vez na história, do processo do Y20, para além do diálogo tradicional das delegações.

Agora, em relação às delegações, a gente tem uma percepção muito positiva da qualidade do coletivo que foi construído. Nós temos cinco jovens de cada país-membro e bloco regional que compõem o G20. Jovens com uma trajetória sólida, com muito conteúdo, com grandes capacidades de diálogo, de negociação, contribuição e isso também se estende à delegação brasileira.
A gente tem tido propostas muito robustas, avançadas, e isso é muito importante porque acaba sendo um pouco do papel das juventudes nesse contexto do G20, de se propor e agir politicamente de maneira mais revolucionária, isso é muito importante. 
A nossa expectativa é conseguir construir um Communiqué com consenso, que seja sólido e a gente possa ampliar a incidência do Y20 na declaração final da cúpula de líderes do G20.

Isso é muito importante, afinal o G20 representa 85% da economia mundial, dois terços da população mundial. Então, aquilo que a gente conseguir influenciar aqui, influencia também a vida de muita gente, né? Bilhões e bilhões de pessoas em todo o planeta. 
Nós já tivemos uma participação importante na reunião de Sherpas, onde o texto que vai para a Cúpula de Líderes é definido, e isso é histórico. Tivemos ainda uma participação importante na reunião de deputies, com os Bancos Centrais do planeta, com os ministérios de Finanças, ministérios de Fazenda, então isso tem sido muito importante.

Pela primeira vez na história, a gente tem essa leitura de que o Y20 tem tido uma incidência mais formal e mais incisiva no processo de construção da Cúpula de Líderes.

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