Gigantesco telescópio da China abraça intercâmbios internacionais, inclusive com Brasil

Maior radiotelescópio do mundo, o Fast, já identificou três vezes mais pulsares do que outros equipamentos; projeto brasileiro participa da cooperação

(Foto: Xinhua)

Na China está o maior radiotelescópio de prato único do mundo, o Fast (na sigla em inglês para Five-hundred-meter Aperture Spherical Radio Telescope) que já identificou mais de 900 novos pulsares desde o seu lançamento em 2016.

O número de novos pulsares descobertos pelo Fast é mais de três vezes o número total de pulsares encontrados por telescópios estrangeiros durante o mesmo período, disse Han Jinlin, cientista do Observatório Astronômico Nacional da Academia Chinesa de Ciências (NAOC, da sigla em inglês), nesta quarta-feira (17).

“Uma das implicações importantes da pesquisa sobre pulsares é fornecer coordenadas cósmicas para possíveis futuras viagens interestelares”, observou Han.

O Fast iniciou suas operações formais em janeiro de 2020 e foi oficialmente aberto para o mundo em março de 2021.

O telescópio fornece aos astrônomos ao redor do mundo uma ferramenta poderosa para desvendar os mistérios e a evolução do universo, afirmou Jiang Peng, engenheiro-chefe do Fast.

Uma das importantes implicações da pesquisa sobre pulsares é fornecer coordenadas cósmicas para possíveis futuras viagens interestelares.

Cooperação científica

O astrônomo britânico Ralph Eatough, que sempre se interessou pela cultura, história e literatura chinesas desde jovem, disse que se sentiu extremamente sortudo por viajar para a China e se juntar ao grupo de pesquisa do Fast, cujos membros foram muito acolhedores.

Depois de obter um doutorado em astrofísica de pulsares na Universidade de Manchester, Eatough trabalha como astrônomo de pulsares no NAOC e é responsável pelo processamento de dados de pulsares e otimização do sistema de tempo-frequência.

“Pulsares são restos extremamente compactos de estrelas massivas que, enquanto giram extremamente rápido (às vezes centenas de vezes por segundo), emitem feixes de radiação eletromagnética que podem passar pela Terra – um pouco como um farol cósmico”, disse ele.

Graças à sua alta sensibilidade, o telescópio pode detectar pulsares muito fracos que anteriormente estavam muito distantes para serem identificados.

Nos últimos anos, Eatough se juntou aos cientistas chineses e realizou muitas observações com o Fast, buscando pulsares não descobertos e medindo precisamente as propriedades dos pulsares encontrados com o Fast.

Ele tem procurado pulsares nas pequenas galáxias satélites que cercam a Via Láctea.

“Estes seriam os pulsares mais distantes conhecidos, e é apenas agora, com a sensibilidade do Fast, que temos a chance de detectá-los. Tais pulsares poderiam nos dizer muito sobre o material gasoso não medido que cerca a Via Láctea,” disse Eatough.

Eatough comentou que abrir o Fast para o mundo significa que agora os astrônomos podem realizar experimentos que anteriormente não eram possíveis devido à sensibilidade insuficiente do telescópio, com um exemplo principal disso sendo a possibilidade de detectar pulsares localizados em galáxias externas.

De acordo com Sun Chun, engenheiro responsável pela medição e controle do Fast, o equipamento recebeu inscrições de 15 países estrangeiros, incluindo Estados Unidos, Alemanha e Japão, e aprovou um total de quase 900 horas para observação.

As inscrições envolvem principalmente observações de rajadas de rádio rápidas, observações de pulsares e levantamentos de hidrogênio neutro, acrescentou Sun.

Intercâmbio de turismo

O telescópio tem atraído muitos turistas de dentro e fora do país desde o seu início. Localizado em uma depressão cárstica naturalmente profunda e redonda na província de Guizhou, sudoeste da China, tem uma área de recepção equivalente a 30 campos de futebol padrão.

Em fevereiro deste ano, um total de 34 pessoas de uma delegação francesa, incluindo estudantes, jovens voluntários e membros da equipe do Secours populaire français, visitaram o telescópio e o salão memorial dedicado ao falecido engenheiro-chefe do projeto Fast, Nan Rendong.

Foi a primeira vez que Florent Madrolle, um tradutor francês, visitou a China e viu o telescópio gigante. “O tamanho e a tecnologia foram muito impressionantes”, disse Madrolle.

A cinco quilômetros de distância do Fast, no distrito de Kedu, o salão memorial atraiu muitos turistas e visitantes ansiosos para prestar homenagem a Nan.

Nan, que selecionou o local do Fast e supervisionou sua construção, morreu em 2017 devido a uma doença aos 72 anos. A China o homenageou com vários títulos póstumos, incluindo “modelo de nossa época”.

Thibouw Laurine contou que durante esta viagem, ela não apenas viu o telescópio e conheceu suas funções, mas também foi profundamente tocada e ansiosa para conhecer mais histórias sobre Nan.

Inovação técnica

Desde o início, o telescópio tem continuamente impulsionado progressos técnicos especiais por meio dos esforços de uma equipe de cientistas liderada por Jiang.

“Pensei que revisaríamos o esquema de design sete ou oito vezes, e não esperava que a primeira versão fosse tão bem-sucedida, com seu desempenho alcançando o nível mundialmente avançado”, disse Chai Xiaoming, engenheira sênior do NAOC, animada.

Ela apontou para um amplificador de baixo ruído (LNA, da sigla em inglês) prateado, que tinha apenas o tamanho de uma gaita de boca. O LNA é o componente central do receptor do telescópio. Ele havia sido importado de países estrangeiros, incluindo Estados Unidos, Suécia e Austrália anteriormente.

Para dominar a tecnologia-chave, Chai e sua equipe passaram quase dois anos desenvolvendo um amplificador de baixo ruído doméstico de alto desempenho.

Projeto brasileiro BINGO

Assim que o protótipo do LNA foi lançado, ele atraiu a atenção da comunidade astronômica internacional. Entre elas a do projeto brasileiro Baryon Acoustic Oscillations From Integrated Neutral Gas Observations (BINGO).

Trata-se de uma colaboração internacional liderada pela Universidade de São Paulo (USP), com participação principal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e da Universidade Federal de Campina Grande (PB), no Brasil. Entre os outros países integrantes do projeto estão: China, Reino Unido, França, África do Sul, Alemanha e Estados Unidos.

O Bingo tem a proposta de conhecer mais detalhes sobre o setor escuro do espaço, que tem a energia responsável pela expansão do Universo. A iniciativa tem o único radiotelescópio do Brasil, instalado na cidade de Aguiar, no sertão da Paraíba. Diferente dos telescópios tradicionais, os instrumentos promovem a captação de ondas de rádio e as traduz em imagens.

O projeto é feito a partir de recursos nacionais. O governo da Paraíba, por meio da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq-PB), aportou R$ 13 milhões no projeto, até o momento.

O Bingo já obteve investimentos totais de cerca de R$ 35 milhões, do Governo de São Paulo, por meio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo), do governo federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI/FINEP) e da China.

O BINGO entrou em contato com o centro de operação e desenvolvimento do telescópio Fast para compra em massa do LNA.

Chai disse que, se a cooperação for alcançada, será a primeira vez que os componentes principais, desenvolvidos independentemente pelo centro de operação e desenvolvimento do telescópio, são exportados para o exterior.

Novos desafios

O projeto Fast não tinha experiência a seguir e estava destinado a enfrentar desafios sem precedentes.

“Ninguém te disse o que fazer, e ninguém tinha certeza do que funcionaria”, disse Jiang, acrescentando que a fase de construção foi cheia de tentativas e fracassos.

Jiang disse que se o Fast fosse apenas considerado um telescópio ou um equipamento de observação, já teria sido suficiente. Mas para manter sua posição de liderança no mundo, sua equipe fará todos os esforços para garantir que o projeto se torne ainda mais estável e eficiente.

Atualmente, o tempo de observação anual do telescópio é de cerca de 5.300 horas, e ele desempenha um papel importante na produção contínua de conquistas científicas.

No futuro próximo, o telescópio fornecerá à comunidade astronômica internacional novas perspectivas, permitindo-lhes explorar ainda mais o universo e tentar encontrar o desconhecido, e fazer maiores contribuições para ajudar os seres humanos a avançar para novos campos de cognição, acrescentou Jiang.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui