Ex-diretor da OMC defende equilíbrio entre China e EUA na política externa do Brasil

Para Roberto Azevêdo, aproximação com a China deve ser estratégica, sem romper com o Ocidente

(Foto: Reprodução / Divulgação / OMC)

O ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, afirmou que o Brasil deve manter uma postura equilibrada nas suas relações com os Estados Unidos e a China, evitando alinhamentos automáticos e buscando extrair o melhor de ambas as potências. Em entrevista ao Estadão, o diplomata defendeu que o governo Lula atue com pragmatismo geopolítico e explore oportunidades estratégicas com a China sem, no entanto, comprometer laços com os norte-americanos e seus aliados.

Azevêdo destacou que a atual conjuntura internacional é marcada por tensões comerciais e tecnológicas entre as duas maiores economias do mundo, e que o Brasil precisa agir com inteligência diplomática. “O Brasil não precisa escolher um lado. Ele precisa escolher seus interesses”, declarou o ex-chefe da OMC, que hoje atua como executivo no setor privado.

China como parceira essencial, mas com cautela

O diplomata reconhece a importância crescente da China na economia brasileira, especialmente nos setores de exportação, investimentos em infraestrutura, transição energética e cooperação tecnológica. Azevêdo ressalta, contudo, que a aproximação com Pequim deve ser guiada por critérios técnicos e estratégicos, e não por impulsos ideológicos.

“O relacionamento com a China precisa ser construído com base em interesses bem definidos, que vão desde o comércio até a inovação, mas isso não significa virar as costas para os Estados Unidos e a União Europeia, que também são fundamentais para o Brasil”, afirmou.

De fato, a China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil, respondendo por mais de 30% das exportações brasileiras, com destaque para soja, minério de ferro, petróleo e carne bovina. Além disso, empresas chinesas vêm investindo pesadamente em setores como mobilidade elétrica, telecomunicações, portos, ferrovias e energia renovável no país.

Diplomacia econômica como instrumento de soberania

Na avaliação de Azevêdo, o Brasil tem espaço para desempenhar um papel relevante como ponte entre diferentes blocos, especialmente em fóruns como o G20, os BRICS e a própria OMC. “A relevância do Brasil está diretamente relacionada à sua capacidade de dialogar com todos e construir consensos. Isso é cada vez mais valorizado num mundo polarizado”, observou.

Ele também defende que o Itamaraty recupere o protagonismo na formulação da política externa, com foco técnico, previsível e centrado em resultados concretos para o desenvolvimento nacional.

Reflexos no ambiente de negócios e imagem global

A postura equilibrada sugerida por Azevêdo pode ser determinante para atrair investimentos de diferentes origens, inclusive de fundos asiáticos, europeus e americanos. Um Brasil percebido como confiável, aberto ao diálogo e comprometido com regras claras tende a ampliar sua capacidade de negociação no cenário internacional.

Para o público empresarial e político brasileiro, a análise de Azevêdo é um chamado à maturidade diplomática. Em vez de escolher entre Pequim e Washington, o Brasil pode — e deve — dialogar com ambos, sempre com base em seus próprios objetivos estratégicos.

No contexto atual de redefinição da ordem global, a habilidade de equilibrar interesses será um dos maiores ativos da política externa brasileira. E a relação com a China, construída com pragmatismo e planejamento, pode continuar sendo uma das principais alavancas de crescimento e inovação para o país.

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