A ampla presença de produtos chineses no e-commerce brasileiro reflete uma transformação global que vem redefinindo o comércio nas últimas décadas. Um estudo do curso de Relações Internacionais do Centro Universitário de Brasília (CEUB) analisa como a China consolidou sua liderança no comércio digital e os impactos dessa dinâmica na economia brasileira.
Segundo o pesquisador Eduardo Anderson dos Santos, o comércio entre Brasil e China se intensificou nos últimos 20 a 30 anos, período em que a China despontou como potência econômica, rivalizando com os Estados Unidos e tornando-se um parceiro estratégico – e também um desafio – para o Brasil.
Com vendas digitais que alcançaram US$ 3,56 trilhões em 2024, segundo a International Trade Administration, o sucesso da China no e-commerce se deve à sua alta capacidade produtiva, infraestrutura logística eficiente e forte apoio estatal ao setor digital. “A China criou um ambiente favorável ao livre comércio digital, com intervenção estatal constante, porém muitas vezes discreta”, explica Eduardo.
Desafios para a indústria brasileira
O estudo aponta que, embora a competitividade chinesa tenha beneficiado consumidores brasileiros das classes C, D e E com produtos mais acessíveis, enfraqueceu a indústria nacional, pressionada por altos custos e deficiências estruturais.
Medidas como o aumento de impostos sobre produtos importados, destinadas a proteger o mercado interno, não surtiram o efeito esperado. “A tributação não fortaleceu a indústria local e reduziu o poder de compra”, destaca Eduardo. Para ele, o Brasil precisa adotar políticas mais estratégicas, que vão além da simples elevação de tarifas.
Caminhos para o comércio digital brasileiro
O professor João Paulo Santos Araújo, orientador da pesquisa, ressalta que o estudo conecta a economia internacional às novas dinâmicas do comércio digital. “O domínio chinês no e-commerce nos leva a repensar a política econômica brasileira e a necessidade de adaptação ao cenário global”, afirma.
Entre os caminhos sugeridos estão investimentos em infraestrutura, inovação tecnológica, educação e a criação de uma regulamentação específica para o comércio digital, garantindo segurança jurídica a empresas e consumidores.
A longo prazo, Eduardo defende um projeto nacional que posicione o Brasil como um player competitivo no mercado digital, apostando em inovação e expansão sustentável de oportunidades.
Seu próximo passo será ampliar o estudo para incluir o papel de outros países da América Latina no comércio digital, contribuindo para políticas públicas inovadoras. “Compreender onde o Brasil está e como pode crescer nesse ecossistema é fundamental. A economia digital já é o presente e será o futuro do comércio internacional”, conclui.