Empresas chinesas avaliam novos investimentos no setor do agronegócio do Brasil

China e Brasil apostam em cooperação estratégica para ampliar negócios no setor agrícola, com destaque para inovação e sustentabilidade

(Foto: Arquivo/ Correio do Estado)

Desde 2017, a Citic Agriculture tem investido de forma significativa no Brasil, com mais de 1.600 funcionários e R$ 400 milhões alocados em uma unidade de desenvolvimento e produção em Paracatu, Minas Gerais. Liu Zhiyong, presidente do Conselho da Citic e de sua unidade de pesquisa, a Longping Hightech, revelou, durante o “Summit Valor Econômico Brazil-China 2025”, realizado em Xangai nesta terça-feira, que a companhia tem planos de expandir ainda mais suas operações. “A Citic e a Longping vão continuar a aumentar seu investimento no agronegócio no Brasil, em termos de pesquisa e produção”, afirmou o executivo, de acordo com O Globo.

Essa postura de expansão é compartilhada por outros gigantes chineses, como o Grupo Cofco. Guo Junping, diretor de política e estratégia do grupo, destacou o avanço da operação da empresa no Brasil, que inclui portos, unidades de processamento e armazéns para exportação de produtos brasileiros para a China.

“Agora, queremos aumentar nossa capacidade de produção, processamento e transporte, e também cobrir mais produtores rurais e cooperativas”, afirmou Guo, durante o painel “O Papel da China no Crescimento do Agronegócio Brasileiro”. Ainda conforme a reportagem, o Cofco também está investindo US$ 285 milhões na construção do maior terminal portuário chinês fora da China, no Porto de Santos, que, em 2026, terá capacidade para movimentar 14,5 milhões de toneladas de carga por ano.

O Brasil, por sua vez, tem se beneficiado do crescente interesse da China por seus produtos agropecuários. Fatores como o aumento da população chinesa e o crescimento da classe média urbana têm sido cruciais para essa demanda. Recentemente, a sustentabilidade também entrou como um fator decisivo.

Pablo Gimenez Machado, presidente da Suzano para a Ásia, destacou que a China tem adotado metas ambiciosas de redução de emissões de carbono – com pico de emissões até 2030 e neutralidade até 2060. “A China, com as metas ‘dual carbon’, está substituindo produtos fósseis por produtos renováveis, o que representa uma enorme oportunidade para empresas como a Suzano”, afirmou Machado.

Em 2024, o Brasil exportou US$ 4,8 bilhões em celulose para a China, um aumento de 21% em relação ao ano anterior, de acordo com a Ibá, associação que representa o setor. Machado também ressaltou a vantagem competitiva do Brasil com a prática de plantio florestal clonal, que garante árvores geneticamente idênticas, maior produtividade e menor necessidade de área plantada.

Fernanda Maciel, diretora-adjunta de Relações Internacionais do Sistema CNA/Senar, observou que a crescente cooperação regulatória entre os dois países pode ser um caminho promissor para o Brasil. “A biotecnologia é essencial para aumentar nossa produtividade preservando o meio ambiente, sem abrir novas áreas de cultivo”, explicou Maciel, que também mencionou a importância de incluir pequenos produtores rurais nas exportações brasileiras.

Entretanto, o aumento do comércio entre Brasil e China não está isento de desafios, especialmente em meio ao cenário incerto gerado pela política comercial dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump. Larissa Wachholz, coordenadora do Programa de China no Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), alertou para os riscos que o Brasil pode enfrentar.

“China e Estados Unidos são duas grandes economias, muito interligadas, e me parece muito alta a chance de essas economias fecharem um acordo. O que os Estados Unidos poderiam exportar para a China em maior quantidade, para lidar com seu déficit comercial, além de produtos agrícolas? Isso é uma preocupação para o agronegócio brasileiro”, disse.

No entanto, Fu Wenge, professor da Universidade Agrícola da China, se mostrou otimista quanto ao futuro da colaboração entre China e Brasil. Ele declarou que, apesar das discussões sobre uma possível negociação entre os dois países, a colaboração com o Brasil continuará a crescer, especialmente no setor agrícola. “Acho pouco provável que haja uma negociação entre China e Estados Unidos que afete nossa parceria com o Brasil”, afirmou Fu, que está organizando uma missão de empresários chineses para explorar novas oportunidades de negócios no Brasil.

O “Summit Valor Econômico Brazil-China 2025” foi realizado pela Editora Globo e pelo Valor Econômico, com apoio de diversas entidades, como o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), BRF, Marfrig, Cedae, ApexBrasil, Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Prefeitura do Rio de Janeiro, CNA/Senar, BYD, Huawei, entre outros.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui