País que tem no Brasil o seu principal parceiro econômico na América Latina, os Emirados Árabes Unidos só se tornaram nação independente em dezembro de 1971 — até então eram um grupo de reinos tribais dominados pelos ingleses. Diante de uma das maiores reservas de petróleo do mundo, o desenvolvimento da região ocorreu em uma velocidade quase astronômica, classificou o professor de direito internacional da Universidade de Itaúna Wiliander França Salomão ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.
“A energia elétrica chegou em Dubai na década de 1950, a primeira faculdade foi implantada em 1970. Por isso eles gostam de mostrar essa opulência como uma vitória; não para se gabar, mas como uma amostra do esforço coletivo que eles têm”, explica o autor do livro “Descobrindo os Emirados Árabes Unidos”. A partir do próximo ano, o país do Oriente Médio se une ao BRICS — formado atualmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, grupo que também vai receber Egito, Etiópia, Arábia Saudita e Irã. Com a eleição de Javier Milei, a entrada da Argentina ficou em xeque.
Quais são os 7 emirados árabes?
Constituído por sete federações (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Fujairah, Umm al-Qiwain e Ras al-Khaimah), o país saiu de uma economia totalmente dependente da exploração de petróleo para uma diversificada matriz: hoje 29% do produto interno bruto (PIB) vêm da indústria petrolífera, mas, segundo o especialista, o índice já superou 80% na década de 1970. “E a tendência é diminuir mais ainda, porque o governo dos Emirados Árabes tem uma preocupação de se tornar cada vez menos dependente do combustível. A meta, ano após ano, seria justamente tornar o petróleo não tão relevante para a economia, como são hoje os mercados imobiliário, de tecnologia e de serviços”, acrescenta.
O país também tornou-se conhecido por atrair mão de obra qualificada, e atualmente 88% dos mais de 9,3 milhões de habitantes são estrangeiros. “O mercado econômico também abriu-se para o mercado mais liberal, para que as outras pessoas dos outros países, próximos ou não, fixassem residência”, enfatizou. Com relação à religião, a maioria é muçulmana, mas há um grande grupo de católicos, que são quase 1 milhão de pessoas.
Quais cidades formam os Emirados Árabes Unidos?
Turismo internacional, tecnologia, energia limpa e sustentabilidade. Cada vez mais o país quer ser lembrado pelas inovações, que se concentram em duas federações. “Dubai virou um ponto central, comercial e econômico, não só para o Oriente Médio, mas todo o eixo Europa, África e Ásia. Já Abu Dhabi é o estado onde nasceu o petróleo [a exploração]”, diz. Conforme o pesquisador, cada ida ao país revela uma surpresa, por conta das constantes mudanças nas cidades.
“Tem projetos em Abu Dhabi, em Dubai e no resto do país de utilização de carros elétricos, de abolir o uso de papel, por exemplo. Tem o Museu do Louvre em Abu Dhabi, existe o parque da Ferrari. São tantas atrações turísticas, que em 20 dias é impossível você ver tudo isso”, enfatiza, lembrando que todos os anos o território recebe mais de 20 milhões de turistas, número maior que o do Brasil.
Com duas viagens só neste ano do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os Emirados Árabes Unidos veem no Brasil o seu principal parceiro econômico na América Latina. Só em abril foram anunciados investimentos de R$ 12 bilhões para a produção de diesel verde a partir da carnaúba e do dendê na Bahia.
“Podemos nos beneficiar mais ainda com a questão do petróleo, as zonas francas do país, que são mais de 40. Há ainda uma abertura comercial, então vai haver ainda mais ligação social e empresarial [entre as duas nações]”, pontua.
Fortalecimento do BRICS
Também ao podcast Mundioka, o professor de relações internacionais do Ibmec Marcos Figueiredo comentou a importância da entrada dos Emirados Árabes Unidos, que historicamente têm fortes relações com os Estados Unidos, no BRICS. Porém cada vez mais o país busca intensificar laços com outros países, a exemplo da recente visita do presidente da Rússia, Vladimir Putin.
“Só vamos entender a relevância da entrada do país se pensarmos o que é o bloco […]. Com a mudança na estrutura internacional e a ascensão da China, houve tentativas de fazer mudanças nessa ordem [global], e que tiveram resistência dos EUA. […] Consequentemente começaram a se formar instituições alternativas, como o BRICS, […] que se tornou uma organização multilateral”, resume.
E tudo isso, conforme o especialista, questiona a velha ordem formada após a Segunda Guerra Mundial, sob a “liderança” dos EUA. “É onde entram os Emirados Árabes […]. A expansão do BRICS denota uma estratégia por parte da China muito assertiva e inteligente. De modo geral, busca trazer os países do Sul Global que questionam um pouco essa ordem e, ao mesmo tempo, assegura uma fonte de segurança energética”, afirma.
Além disso, o especialista acredita que o país árabe será cada vez mais importante para o Novo Banco de Desenvolvimento, o banco do BRICS, que, segundo ele, servirá como alavanca para impulsionar as transações entre os países com o uso de outras moedas para além do dólar.
“Podem trazer um aporte significativo de capital, de investimento nessa nova instituição que, de certa maneira, questiona o Banco Mundial na sua versão americana. E o que acaba acontecendo, em resumo, é que os Emirados Árabes Unidos ajudam a legitimar ainda mais essa instituição multilateral que é o BRICS”.