Para parte dos membros da CPI, os depoimentos de Queiroga e Pazuello não foram suficientes para sanar todas as dúvidas quanto a ações e eventuais omissões do governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
Outro ponto levantado por senadores independentes e oposicionistas é que houve contradições em depoimentos de demais autoridades que precisam ser elucidadas. Por exemplo, quanto aos alertas de que o Amazonas estava na iminência de sofrer uma falta de oxigênio hospitalar na crise aguda vivida pelo estado em janeiro deste ano.
Em depoimento ontem, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, a médica Mayra Pinheiro, contradisse Pazuello ao afirmar que o ministério soube sobre a falta de oxigênio em Manaus em 8 de janeiro deste ano. Pazuello disse à CPI que foi alertado sobre a situação apenas na noite de 10 de janeiro.
Segundo o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), as “mentiras” que “estão aparecendo” após o primeiro depoimento de Pazuello, na semana passada, e o recente comportamento do general, que acompanhou, sem máscara, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em uma manifestação no último domingo (23), são tentativas de desmoralizar a CPI.
Ontem à noite, Omar afirmou que se Pazuello voltar à CPI sem um habeas corpus que o proteja, “não tenha dúvida de que não será da mesma forma como foi a última vez”.
“Não vi ninguém vendendo máscara em cima daquele palanque no domingo. Ele estava sem máscara. Não sou eu que estou dizendo. São as imagens que são mais fortes que mostram”, disse Omar.
Pazuello não deve ser ouvido novamente pela CPI antes de 17 de junho, porque, em princípio, até a data, a agenda de depoimentos e atividades do colegiado já está ocupada.
CPI deve convocar série de governadores
Omar Aziz informou que os senadores da comissão devem votar hoje ainda a convocação de governadores e ex-governadores, com foco em mandatários de locais em que houve operações da Polícia Federal relacionadas à pandemia, como para investigar supostos mau usos de recursos da União repassados a estados e municípios.
Prefeitos e ex-prefeitos de capitais em que houve indícios de irregularidades também estão na mira da CPI e devem ser chamados para depor.
A expectativa da CPI é abrir em junho uma nova fase de depoimentos para se debruçar melhor sobre eventuais erros de governadores e prefeitos, como prefere o governo federal numa tentativa de tirar o presidente Jair Bolsonaro do foco da comissão.
Entre os governadores citados pelos senadores, governistas e oposicionistas, para serem convocados estão Ibaneis Rocha (DF), Cláudio Castro (RJ), João Doria (SP), Wilson Lima (AM), Antonio Denarium (RR), Waldez Góes (AP), Rui Costa (BA), Mauro Carlesse (TO), Helder Barbalho (PA) e Eduardo Leite (RS), por exemplo. O ex-governador do Rio Wilson Witzel também pode ser convocado.
A lista definitiva de quem será chamado depende do resultado das votações hoje.
Inicialmente, os senadores independentes e oposicionistas eram mais contrários a depoimentos de governadores, mas, agora, estão se mostrando mais abertos à possibilidade — prevista no ato de criação da CPI.
O senador bolsonarista Marcos Rogério (DEM-RO) afirmou que a convocação de governadores e prefeitos é “o grande avanço” agora da CPI. Ele acredita que o melhor critério a se seguir é o “rastro de operações da Polícia Federal”, mas que isso não significa que a CPI vai parar nesses casos.
Na mira da CPI também está Arthur Weintraub, irmão do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. Ele é apontado como suposto participante do chamado “gabinete paralelo” que teria orientado Bolsonaro durante a pandemia.
Fora a votação desses requerimentos, a CPI deve analisar mais pedidos de informações a órgãos, entidades e empresas. A previsão de Omar Aziz é que os senadores não votem hoje pedidos de quebra de sigilos.
O depoimento do ex-número 2 do general Pazuello, Élcio Franco, estava previsto para acontecer na quinta (27), mas o ex-secretário encaminhou um comunicado aos parlamentares informando que ainda se recupera depois de ter contraído a covid-19.
Portanto, o próximo depoimento à CPI será o do diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, e está marcado para amanhã. O Butantan é o responsável no país pela produção da vacina de origem chinesa CoronaVac contra a covid-19, encampada pelo governador de São Paulo, João Doria, adversário político do presidente Bolsonaro.