Localizada no sudeste da província de Sichuan, Luzhou é amplamente conhecida na China como a “cidade do vinho”. O baijiu é o principal pilar industrial do município e desempenha papel central no desenvolvimento econômico e social da região. Mais do que um produto, a cultura do álcool ali cultivada há séculos dá à cidade um conteúdo simbólico próprio. Diante desse legado, surge a pergunta: como fazer com que o sabor encorpado do baijiu de Luzhou ultrapasse as fronteiras locais e conquiste o paladar do mundo?

Com essa questão em mente, mais de 20 representantes de veículos de mídia chinesa no exterior visitaram Luzhou no dia 14. O grupo percorreu o Conjunto de Adegas Históricas Tombadas como Tesouro Nacional, originado em 1573, e o Museu do Baijiu Chinês de Sichuan, entre outros pontos, em busca dos “segredos” que permitem ao aroma do baijiu atravessar montanhas e mares. Ao longo das visitas, os jornalistas também apresentaram sugestões sobre como fortalecer ainda mais a presença internacional das marcas locais.
Para Tang Yongbei, presidente e editora-chefe do jornal Tasmania Chinese News (Austrália), a modernização das fábricas é um divisor de águas. Ela recorda que, no passado, a produção de baijiu dependia inteiramente da experiência e das habilidades dos mestres destiladores, o que dificultava atender à expansão da demanda. Hoje, parques industriais inteligentes preservam a essência do método tradicional, mas contam com tecnologia para garantir estabilidade e padronização da qualidade. Na avaliação de Tang, essa combinação entre “alma artesanal” e processos modernos cria uma base sólida para que o baijiu de Luzhou, de Sichuan e de toda a China avance em escala rumo ao mercado global.

Os números refletem essa tendência. Nos últimos anos, o baijiu vem ganhando espaço no exterior. Dados estatísticos indicam que, em 2024, as exportações totais de bebidas alcoólicas da China alcançaram 1,9 bilhão de dólares, sendo que o baijiu respondeu por 970 milhões de dólares, liderando entre todas as categorias. Luzhou acompanha esse movimento e explora ativamente o mercado internacional: aumenta a participação de rótulos de alto e médio-alto padrão em suas vendas externas, enquanto o Sudeste Asiático, o Oriente Médio e partes da Europa e da América do Norte se consolidam como novos polos de crescimento.
Tang Yongbei relata que o desempenho do baijiu na Austrália é bastante positivo, em grande parte graças à numerosa comunidade de chineses no país, que mantém forte demanda de consumo. A partir desse público, o destilado chinês passou a conquistar também apreciadores locais, atraídos pelo sabor e pelo perfil sensorial diferenciado da bebida. Na opinião dela, para ampliar ainda mais sua presença internacional, o baijiu de Luzhou precisa reforçar ações de divulgação e marketing voltadas especificamente aos chineses ultramarinos, transformando esse grupo em ponte para alcançar um contingente maior de consumidores estrangeiros.
Na visão de Yao Yihua, vice-editora-chefe do jornal European Overseas Chinese Daily, da Romênia, o elemento decisivo para que o baijiu “saia pelo mundo” é a internacionalização da cultura tradicional do álcool na China. Tanto as técnicas de produção transmitidas de geração em geração quanto a própria trajetória histórica do baijiu, intimamente ligada à vida cotidiana do povo, possuem profundidade cultural e apelo universal. Essa “cultura na ponta da língua”, avalia ela, não conhece fronteiras e gera empatia natural. “Por meio de uma taça de boa bebida, o mundo pode provar o sabor de uma cidade, sentir a sabedoria e as emoções do povo chinês. É uma forma de intercâmbio cultural muito próxima e poderosa”, resume.
Para Shen Ming, responsável pela área de vídeos curtos do portal Laos Information Net, é impossível separar o baijiu do conjunto mais amplo da gastronomia chinesa. Ele observa que, à medida que a culinária chinesa ganha reconhecimento mundial, o baijiu, enquanto parte essencial dessa cultura alimentar, também se torna mais conhecido pelo público estrangeiro. Shen sugere que Luzhou, além de aproveitar plenamente a força da diáspora chinesa na promoção de seus produtos, invista no desenvolvimento aprofundado de modelos do tipo “baijiu + turismo”, criando experiências integradas que atraiam consumidores tanto da China quanto do exterior.













