Em meio à crescente instabilidade nos Estados Unidos — impulsionada por disputas políticas internas, guerra comercial prolongada com a China e incertezas regulatórias —, grandes empresas e investidores globais estão começando a reavaliar seus mapas de risco. Segundo o presidente da consultoria internacional Control Risks, o Brasil aparece cada vez mais como uma alternativa viável e estratégica para a diversificação de investimentos, inclusive para empresas asiáticas e chinesas que buscam estabilidade, mercado interno robusto e acesso facilitado a matérias-primas e energia limpa.
Esse novo cenário geoeconômico pode representar uma oportunidade de ouro para o Brasil, especialmente em setores onde a China já tem forte presença, como infraestrutura, energia renovável, agronegócio, automóveis elétricos e tecnologia. A desaceleração das cadeias logísticas globais durante a pandemia e as sanções comerciais recíprocas entre Washington e Pequim reforçaram a necessidade de diversificação — e o Brasil, com sua posição privilegiada no Sul Global, ganha protagonismo nesse redesenho.
Atualmente, a China é o maior parceiro comercial do Brasil e o segundo maior investidor estrangeiro no país. Nos últimos anos, empresas chinesas ampliaram sua presença em portos, ferrovias, linhas de transmissão, e mais recentemente no setor automotivo e tecnológico. A perspectiva de aumento do “China +1” — estratégia que busca complementar a produção chinesa com unidades em outros países — pode beneficiar diretamente o Brasil, oferecendo vantagens como segurança jurídica, acordos bilaterais bem estabelecidos e estabilidade democrática.
Para o Brasil, atrair mais capital chinês em meio a uma reorganização global significa mais do que cifras: trata-se de consolidar a posição como hub logístico, produtivo e energético no Hemisfério Sul. O país também pode se beneficiar ao servir de ponte entre China e América Latina, facilitando a entrada de empresas chinesas em mercados regionais menores, mas promissores.
Além do setor empresarial, o ambiente diplomático é favorável. O governo brasileiro tem reforçado o compromisso com o multilateralismo, a estabilidade macroeconômica e a sustentabilidade — temas caros aos investidores internacionais e que dialogam diretamente com as prioridades estratégicas da China, especialmente no contexto dos BRICS e da Nova Rota da Seda.
A mensagem é clara: enquanto potências tradicionais enfrentam turbulência, o Brasil tem a chance de se apresentar como porto seguro. E a China, longe de ser apenas um parceiro comercial, pode ser uma aliada central na transformação estrutural do Brasil para os próximos anos.