A China assumiu, pela primeira vez, a liderança entre os países de origem das importações brasileiras, superando os Estados Unidos em valor total acumulado. O movimento confirma uma tendência de longo prazo no comércio exterior do Brasil: o fortalecimento dos laços econômicos com seu principal parceiro asiático, não apenas na exportação, mas agora também na importação de bens estratégicos.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), divulgados nesta semana, mostram que entre janeiro e julho de 2025, as importações vindas da China somaram US$ 30,04 bilhões — uma alta de 22,5% em comparação com o mesmo período do ano passado. Em contraste, as compras provenientes dos Estados Unidos chegaram a US$ 29,1 bilhões, com crescimento mais tímido de 6,7%.
Segundo especialistas, a mudança no ranking não representa apenas uma troca de posição simbólica, mas revela uma transformação significativa na composição e no direcionamento das cadeias produtivas brasileiras.
Mais máquinas, tecnologia e fertilizantes
A pauta importadora da China é diversificada, com destaque para equipamentos industriais, insumos agrícolas e produtos eletroeletrônicos. Em 2025, os principais itens comprados foram máquinas e aparelhos mecânicos (US$ 5,2 bilhões), partes e acessórios de informática, celulares e dispositivos de comunicação (US$ 4,8 bilhões), além de fertilizantes (US$ 2,3 bilhões).
A presença de fertilizantes chama atenção, especialmente em um ano de safra robusta no Brasil. Com os conflitos geopolíticos afetando fornecedores tradicionais como Rússia e Belarus, a China tem ampliado sua fatia nesse setor. Isso fortalece ainda mais o papel do país asiático como elo essencial na cadeia agroindustrial brasileira.
Interdependência e desafios
A crescente dependência mútua entre Brasil e China traz benefícios, como preços mais competitivos, aumento da oferta de tecnologia e garantia de abastecimento. No entanto, também impõe desafios, especialmente para setores industriais brasileiros que enfrentam concorrência direta de produtos importados com menor custo de produção.
“A consolidação da China como nosso principal fornecedor de bens é reflexo do dinamismo da sua indústria e da competitividade de seus produtos”, explica o economista João Pedro Sabino, da Fundação Getúlio Vargas. “Mas é importante que o Brasil invista em políticas de reindustrialização e agregação de valor para equilibrar essa balança.”
Relação bilateral em expansão
O fortalecimento das importações ocorre em paralelo à continuidade da China como maior destino das exportações brasileiras — especialmente em commodities como soja, minério de ferro, petróleo e carne bovina. Em 2024, o comércio bilateral entre os dois países ultrapassou US$ 157 bilhões, com superávit expressivo para o lado brasileiro.
Para analistas, a ascensão chinesa nas importações pode indicar uma nova fase na relação Brasil-China, com maior integração das cadeias produtivas e potencial expansão para setores como semicondutores, veículos elétricos e energia renovável.
“O Brasil precisa olhar para a China não só como mercado consumidor, mas como parceiro de inovação”, afirma Sabino. “A evolução das importações mostra que há um espaço enorme para cooperação tecnológica e transferência de conhecimento.”
Oportunidade para o futuro
Com a criação de uma adidância tributária e aduaneira brasileira em Pequim anunciada recentemente, o Brasil dá sinais de que pretende institucionalizar ainda mais a relação com o país asiático. A nova liderança chinesa nas importações pode, portanto, ser uma porta aberta para aprofundar não apenas o comércio, mas também os investimentos e a cooperação bilateral em ciência, educação e desenvolvimento sustentável.
Enquanto o cenário internacional permanece instável, a parceria sino-brasileira se mostra cada vez mais estratégica para garantir estabilidade econômica, segurança alimentar e acesso a insumos essenciais. E o novo marco no comércio bilateral pode ser apenas o começo de uma relação ainda mais interdependente.