A China intensificou os testes de segurança em solo após suspender temporariamente o retorno dos três astronautas da missão Shenzhou-20, que permanece na estação espacial Tiangong. A decisão foi tomada pela Agência de Engenharia Espacial Tripulada da China (AEETC) depois da identificação de um risco de colisão com detritos orbitais — uma ameaça crescente na órbita terrestre.
O retorno estava inicialmente previsto para ocorrer quatro dias após a chegada da nova tripulação da Shenzhou-21, seguindo o protocolo padrão de rotação de equipes. Entretanto, a prioridade da agência foi garantir a integridade da nave e da tripulação. A Tiangong, com capacidade para abrigar simultaneamente as duas equipes, segue operando normalmente, com seis taikonautas conduzindo experimentos científicos em conjunto.
Desde 2003, quando a Shenzhou-5 levou Yang Liwei ao espaço e tornou a China o terceiro país a enviar um humano ao espaço de forma independente, o país tem consolidado um programa espacial de longo prazo. Hoje, a Tiangong representa o ápice dessa trajetória, mantendo tripulações permanentes e funcionando como um laboratório orbital avançado dedicado a estudos em microgravidade, física, medicina espacial e tecnologia de materiais.
Entre os experimentos em andamento estão pesquisas sobre o desenvolvimento de mamíferos em ambiente de microgravidade, combustão controlada e detecção de raios cósmicos de alta energia. Essas atividades visam ampliar o conhecimento científico e fortalecer a autonomia tecnológica chinesa no espaço, especialmente após o país ter sido excluído do programa da Estação Espacial Internacional (ISS) na década de 1990.
A estação Tiangong é resultado direto do Projeto 921, que delineou a estratégia de construção de uma estação espacial nacional. Seu formato atual, concluído em 2022 com a missão Shenzhou-14, inclui os módulos Tianhe, Wentian e Mengtian, formando uma estrutura em “T”. Desde então, a China mantém uma rotina de missões semestrais, consolidando a presença humana contínua em órbita.
Os marcos do programa incluem feitos históricos como a primeira caminhada espacial de Zhai Zhigang em 2008, a primeira aula transmitida ao vivo do espaço por Wang Yaping em 2013 e o recorde de permanência de seis meses estabelecido em 2021. Em 2024, o país também se destacou ao enviar a sonda Chang’e-6 ao lado oculto da Lua e trazer de volta quase dois quilos de amostras lunares, parte das quais foi compartilhada com a comunidade científica internacional.
A longo prazo, a China planeja missões ainda mais ousadas. As próximas fases do programa lunar — com as missões Chang’e-7 e Chang’e-8 — pretendem estabelecer uma Estação Internacional de Pesquisa Lunar no polo sul da Lua até 2035. Paralelamente, o país se prepara para uma missão de retorno de amostras de Marte e, até 2049, busca alcançar a marca de 100 unidades astronômicas, o equivalente a 15 bilhões de quilômetros da Terra.
Enquanto realiza os testes de segurança para o retorno da Shenzhou-20, a China reafirma seu compromisso em consolidar uma presença estável e científica no espaço. A atual pausa técnica demonstra não apenas prudência operacional, mas também a maturidade de um programa que avança com disciplina e visão estratégica — mirando não apenas o retorno seguro dos taikonautas, mas o futuro da exploração espacial humana.













