Wanming também ressaltou a expectativa sobre políticas internas e externas “moderadas e prudentes”. Em entrevista ao jornal O Globo, o embaixador, que está no Brasil desde 2018, explicou que o Afeganistão tem um complexo contexto histórico, religioso e geopolítico de longa data. Para ele, a evolução drástica da situação no país mostra que “o mundo externo carecia de uma leitura objetiva sobre a situação” na região.
“Existem múltiplos problemas acumulados no Afeganistão e os Estados Unidos criaram novos dilemas com a retirada das suas tropas, fazendo com que o processo de paz e reconstrução do país seja bastante árduo. Como vizinha e amiga do Afeganistão, a China mantém contato e comunicação com o Talibã e outros grupos com base em respeito pleno pela soberania nacional do Afeganistão e vontade de todos os segmentos afegãos”, disse.
O diplomata disse que seu país espera que o Talibã combata “todos os tipos de terrorismo” e que não permita que forças como essas usem o território afegão para ameaçar a segurança das nações vizinhas.
Além de críticas à atuação dos Estados Unidos no Afeganistão, o embaixador também os criticou em relação ao combate e posicionamentos na pandemia.
Perguntado sobre as hipóteses levantadas pelos norte-americanos sobre as origens do coronavírus, incluindo um incidente laboratorial e acusações à China de atrapalhar a investigação global, Wanming disse que o relatório daquele país é “mentiroso para fins políticos e não tem nenhuma base científica ou credibilidade”. Para ele, os EUA não estão agindo com transparência, responsabilidade e espírito de cooperação.
Relações entre China e Brasil
Yang Wanming disse manter contatos frequentes com o chanceler Carlos França, diferentemente do que acontecia durante o período de Ernesto Araújo à frente das Relações Exteriores. Por outro lado, o embaixador evita comentar os ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao país e apenas cita as boas relações entre as duas nações.
“A China sempre avalia o relacionamento com o Brasil numa perspectiva estratégica e de longo prazo e promove o intercâmbio e a cooperação bilaterais em todas as áreas. Nos últimos 12 anos, a China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil. Apesar dos impactos da pandemia, o comércio sino-brasileiro mantém ritmo de crescimento”, disse.
Wanming ressaltou que esses são “resultados baseados no respeito, nos ganhos mútuos e no progresso comum”.
Segundo o diplomata, Pequim vê o Brasil com uma “perspectiva estratégica e de longo prazo”. Ele também garantiu que a China quer continuar com a parceria por vacinas com o Brasil no ano que vem.
Ele explicou que o chanceler brasileiro participou, há algumas semanas, da primeira reunião do Fórum Internacional sobre a Vacina, presidida pelo conselheiro de Estado e chanceler chinês Wang Yi. Segundo o embaixador chinês, as declarações que se seguiram após o encontro mostram que os participantes estão dispostos a promover a cooperação internacional contra a covid-19 e distribuir vacinas de forma justa no mundo.
“Conforme a demanda do lado brasileiro, a parte chinesa está disposta a continuar a parceria bilateral em vacinas para vencermos juntos esta batalha”, finalizou.