A China deve inaugurar ainda em setembro a Ponte do Grande Cânion Huajiang, na província de Guizhou, considerada a mais alta do mundo. Com 625 metros de altura — quase o dobro da Torre Eiffel — e 2,9 quilômetros de extensão, a obra conecta os condados de Guanling e Zhenfeng, reduzindo o tempo de viagem de duas horas para apenas dois minutos.
Em construção desde 2022, a ponte passou por testes de carga em agosto e, além da função logística, será também atração turística. O projeto inclui um elevador panorâmico de 213 metros, uma passarela de vidro de quase um quilômetro e uma torre de observação, reforçando a estratégia de Guizhou de unir infraestrutura e turismo para estimular o crescimento econômico.
O People’s Daily, jornal oficial do Partido Comunista, classificou a estrutura como um “novo milagre chinês”, exaltando a velocidade e a engenhosidade da província. Para analistas, projetos como esse reforçam o prestígio político de Pequim e se alinham à estratégia do governo central de usar grandes obras como motores de desenvolvimento e símbolos de poder.
Técnicos envolvidos na obra também destacaram o orgulho e os desafios do projeto. O engenheiro-chefe Liu Hao, de 42 anos, explicou que ventos fortes e encostas íngremes exigiram soluções inovadoras, como a adoção de um arco mais leve, que reduziu em 30% o peso da estrutura. “Quando a ponte abrir, quero levar minha filha para mostrar: esse é mais um megaprojeto que construímos juntos”, afirmou.
Apesar dos avanços, a velocidade dos megaprojetos também traz riscos. O colapso de uma ponte em construção em Qinghai, no mês passado, deixou pelo menos 12 mortos, reacendendo o debate sobre segurança.
Para Guizhou, historicamente uma das províncias mais pobres da China, a ponte se soma a um conjunto de investimentos em aeroportos e rodovias que transformaram a região em vitrine de infraestrutura. No plano nacional, confirma a diretriz do presidente Xi Jinping e do premiê Li Qiang de apostar em grandes obras para dinamizar consumo, turismo e integração territorial.
Críticos, como a pesquisadora Dan Wang, argumentam que o modelo privilegia obras monumentais em vez de transferências diretas à população. Ainda assim, a Ponte do Grande Cânion Huajiang simboliza a visão de Pequim: infraestrutura como vetor de desenvolvimento e instrumento de poder geopolítico.