China impõe embargo total à carne de frango brasileira após caso de gripe aviária

Medida amplia restrições anteriores e pressiona setor avícola, mas governo brasileiro busca negociar flexibilização

(Foto: Reprodução)

A China anunciou nesta semana a suspensão total das importações de carne de frango do Brasil, incluindo produtos relacionados, após a confirmação do primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul. A decisão, publicada em aviso da Administração Geral de Alfândegas chinesa no dia 29 de maio, desconsiderou o pedido do governo brasileiro para que as restrições fossem limitadas ao estado afetado. O embargo se soma às suspensões já adotadas por União Europeia, Coreia do Sul e outros 33 países, impactando um setor que movimentou US$ 10 bilhões em exportações em 2024 5610.

Impacto bilateral e reação do Brasil

A China é o maior comprador de frango brasileiro, responsável por cerca de 10% das exportações do produto. A proibição total contrasta com medidas de parceiros como Japão e Emirados Árabes, que restringiram apenas cargas originárias do Rio Grande do Sul ou do município de Montenegro, onde o foco foi detectado. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reforçou que o governo está em diálogo com Pequim para rever a decisão: “Temos protocolos sanitários robustos e a situação está controlada. Acreditamos numa solução antes dos 60 dias iniciais previstos”.

A medida chinesa pode gerar um excedente de 500 mil toneladas de frango no mercado interno, com possibilidade de queda nos preços a curto prazo. No entanto, especialistas alertam que, se prolongada, a suspensão pode reduzir a produção e levar a aumentos futuros. O setor privado, representado pela ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), destacou que o caso está isolado e que as exportações para outros mercados seguem normais.

Contexto sanitário e comercial

O vírus H5N1 foi identificado em uma granja de matrizes em Montenegro (RS) no dia 16 de maio, levando ao abate de todas as aves do local e ao isolamento da área. O Brasil já havia registrado casos em aves silvestres desde 2023, mas este é o primeiro em produção comercial, o que acionou protocolos internacionais de embargo automático. A China, que historicamente adota medidas rigorosas em crises sanitárias, seguiu o mesmo padrão aplicado a outros países, como os EUA, onde surtos anteriores causaram escassez de ovos e alta de preços.

Apesar do tom urgente, a relação comercial bilateral permanece estratégica. Em 2023, o fluxo entre os países atingiu US$ 160 bilhões, com destaque para commodities agrícolas. Em setembro de 2024, Brasil e China assinaram um memorando para integrar sistemas aduaneiros e agilizar trocas, o que pode facilitar a reabertura do mercado após a crise.

Próximos passos

O governo brasileiro trabalha para conter a disseminação do vírus e negociar a regionalização dos embargos, argumentando que a restrição total é desproporcional. Enquanto isso, frigoríficos como BRF e JBS redirecionam parte das exportações para mercados como Oriente Médio e Sudeste Asiático. Para o consumidor brasileiro, o Ministério da Agricultura reforça que não há riscos no consumo de carne ou ovos, já que o vírus não resiste ao cozimento.

A crise testa a resiliência do agronegócio brasileiro, mas também evidencia a interdependência entre Brasil e China — um vínculo que, mesmo sob tensão sanitária, segue movido por interesses mútuos. A expectativa é que a solução comercial venha antes que os impactos se aprofundem.

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