A China, o Irã e a Rússia pediram nesta sexta-feira (14/03) o fim das sanções contra Teerã, durante negociações em Pequim. A reunião acontece em meio à forte pressão de Washington sobre a retomada do programa nuclear iraniano, negociado em 2015 pelas potências ocidentais. O texto é válido até outubro deste ano e alguns países não descartam impor novas sanções a Teerã após essa data.
Durante seu primeiro mandato, em 2018, Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo de forma unilateral, mas agora diz que está aberto à retomada do diálogo. Paradoxalmente, o presidente norte-americano endureceu as sanções contra o Irã e por isso sua proposta não é considerada confiável pelos líderes iranianos.
“Conversamos sobre questões nucleares e o fim das sanções”, disse Ma Zhaoxu, vice-ministro das Relações Exteriores da China, em um comunicado à imprensa, nesta sexta-feira, após uma reunião com ministro russo, Sergei Ryabkov, e o iraniano, Kazem Gharibabadi.
Eles “enfatizaram a necessidade de pôr fim a todas as sanções unilaterais ilegais“. As negociações de sexta-feira em Pequim visam “fortalecer a comunicação e a coordenação, de modo a retomar o diálogo e as negociações em breve”, ressaltou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, na quinta-feira (13/03).
Os países ocidentais suspeitam que Teerã busque enriquecer urânio de alto teor para desenvolver uma arma atômica. O regime iraniano defende que seu programa visa produzir tecnologia nuclear apenas para uso civil.
Em 2015, o Irã chegou a um acordo com os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (China, Rússia, Estados Unidos, França e Reino Unido) e a Alemanha sobre o nível de enriquecimento de urânio e a fiscalização internacional de suas centrais nucleares.
O país estava respeitando seus compromissos, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em troca da diminuição da produção de urânio enriquecido, houve um alívio das sanções.
Mas em 2018, Donald Trump retirou seu país do acordo. As sanções dos EUA foram restabelecidas e a economia do Irã sofreu um forte impacto. Em resposta, o Irã manteve seu programa nuclear e todas tentativas de retomar o compromisso de 2015 falharam nos últimos anos.
O Irã já realizou várias rodadas de negociações com Alemanha, França e Reino Unido nos últimos meses sobre seu programa nuclear, sem sucesso.
“Ameaça imprudente”
Desde seu retorno à Casa Branca, Donald Trump disse que está pronto para o diálogo com o Irã sobre a questão nuclear.
Em uma carta enviada ao líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, ele alertou sobre uma possível ação militar se Teerã se recusasse a retomar o diálogo. “Esta ameaça é imprudente”, respondeu Khamenei na quarta-feira (12/03), acrescentando que Teerã era “capaz de retaliar“.
Trump está seguindo uma política de “pressão máxima” em relação ao Irã, que começou durante seu primeiro mandato (2017-2021), com o restabelecimento de sanções para enfraquecer o país economicamente.
O governo dos EUA anunciou na quinta-feira novas sanções contra o ministro do Petróleo iraniano, Mohsen Paknejad, além de várias organizações e navios acusados de ajudar o país a contornar as sanções internacionais sobre seu petróleo bruto.
A medida foi denunciada na sexta-feira por Teerã, que criticou a “hipocrisia” de Washington. No final de fevereiro, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi, descartou qualquer “negociação direta” com os Estados Unidos no contexto atual.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baqai, afirmou que a decisão demonstra “a hipocrisia” dos Estados Unidos.
As sanções são “outra prova clara da falsidade das declarações e outro sinal de sua hostilidade ao desenvolvimento”, acrescentou o porta-voz.