O principal interesse dos investidores da China no Brasil são setores estratégicos, como infraestrutura energética sustentável e a transição energética.
O volume de investimentos chineses no país aumentou em 2023 quando comparado a 2022. A área de eletricidade liderou a atração desses investidores e o setor automotivo apareceu em segundo lugar, com todos direcionados a veículos elétricos ou híbridos.
Em 2023, de todos os projetos chineses no Brasil, 72% foram direcionados a energias verdes e setores relacionados – 16 pontos percentuais a mais do que em 2022 e a maior participação registrada desde o início da série histórica em 2007.
Na América Latina e no Brasil, os investimentos chineses têm sido menos volumosos nos últimos anos, mas vêm avançando nas chamadas “novas infraestruturas”, que incluem iniciativas em áreas que estão no centro dos planos de desenvolvimento de Pequim, como energias renováveis, mobilidade elétrica, Tecnologia da Informação, infraestrutura urbana e manufaturas de alto padrão.
Foco na transição energética
Essas são algumas conclusões do relatório divulgado pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) no dia 3 de setembro. A publicação oferece um panorama detalhado da evolução dos investimentos chineses no Brasil e os compara com o cenário global, inserindo o país no contexto das tendências de investimentos estrangeiros diretos da China ao redor do mundo, especialmente em mercados emergentes.
De acordo com o documento, a agenda do powershoring, estratégia corporativa voltada à descarbonização para a produção de bens intensivos em energia para exportação, apresenta uma janela de oportunidade para a atração de novos investimentos chineses no Brasil.
“Na indústria e em áreas ligadas ao processo de transição energética, considerando as diversas vantagens comparativas do país, como sua matriz energética limpa, a vasta disponibilidade de água doce, suas reservas de minerais críticos e a distância dos grandes temas geopolíticos contemporâneos”, reforça o relatório.
Mais projetos saíram do papel
Segundo o CEBC, os investimentos chineses no Brasil aumentaram 33% em 2023 ante 2022, alcançando US$ 1,73 bilhão (cerca de 8,65 bilhões de reais). Já houve anos melhores, como 2016 e 2017, quando se aproximaram de US$ 9 bilhões ( cerca de 45 bilhões de reais). Mesmo considerando os efeitos da desvalorização cambial, a partir de 2017 houve queda.
O número de projetos chineses no país caiu 9%, com 29 confirmados, mas a efetivação dos projetos anunciados saltou de 27% para 88%. O setor de eletricidade liderou os aportes, com 39% do valor investido, enquanto o setor automotivo, voltado para veículos elétricos e híbridos, representou 33%. Além disso, 72% dos projetos se concentraram em energias verdes, reforçando a tendência de sustentabilidade.
Regiões que receberam investimentos
Os investimentos chineses se concentraram principalmente na região Sudeste (68%), com destaque para São Paulo, que atraiu 39% dos projetos. No cenário global, o Brasil foi o nono maior destino de capital produtivo chinês. Nos últimos anos, a China tem direcionado seus aportes para novas infraestruturas e setores estratégicos, como renováveis e mobilidade elétrica.
A desvalorização do real e a crescente descarbonização global criam oportunidades para o Brasil atrair mais investimentos chineses nos próximos anos, especialmente nas áreas de transição energética e manufaturas de alto padrão.
Aposta no Sul Global
Uma das conclusões do CEBC é o aumento da participação de países em desenvolvimento, o Sul Global, entre os principais destinos dos investimentos da China.
Em 2017, quando ocorreu a primeira queda significativa dos aportes chineses no exterior desde o início dos anos 2000, esses países pobres representavam apenas três dos dez maiores receptores de investimentos chineses.
Entre 2018 e 2022, a presença de países em desenvolvimento variou de quatro a seis entre os dez principais destinos. Em 2023, no entanto, nove dos dez maiores receptores de capital chinês foram nações em desenvolvimento, o que evidencia uma mudança clara em relação à preferência histórica da China por países desenvolvidos como foco de seus investimentos produtivos.
Esse cenário, aponta o relatório, pode ser interpretado como um reflexo da guerra comercial entre Estados Unidos e China, que teve início em 2018, durante o segundo ano do governo de Donald Trump. A disputa resultou na imposição de uma série de tarifas comerciais entre as duas potências e, posteriormente, na adoção de medidas que dificultaram a entrada de investimentos chineses nos EUA.
Economias alinhadas com a política de contenção da influência chinesa, como Austrália e alguns países europeus, também seguiram estratégias semelhantes, restringindo a presença de capital chinês. Tradicionalmente, esses países eram grandes receptores de investimentos do gigante asiático.
Mudanças nos investimentos
Os investimentos chineses na América Latina e Caribe, assim como no Brasil, têm passado por mudanças estruturais significativas. De acordo com um relatório do Inter-American Dialogue, os aportes da China na região caíram de uma média de US$ 14,2 bilhões entre 2010 e 2019 para US$ 7,7 bilhões entre 2020 e 2021, chegando a US$ 6,4 bilhões em 2022. Apesar da queda nos valores, isso não indica um desinteresse das empresas chinesas pela região, mas sim um novo modelo de engajamento.
Empresas chinesas, tanto na América Latina quanto em outras partes do mundo, têm se concentrado em projetos menores nas chamadas “novas infraestruturas”, que incluem setores estratégicos para o desenvolvimento de Pequim, como energias renováveis, carros elétricos, Tecnologia da Informação, infraestrutura urbana e manufaturas de alto padrão. Essa tendência também foi observada no Brasil, conforme apontado no estudo “Investimentos chineses no Brasil: 2022 – tecnologia e transição energética“, do CEBC.
Embora o foco atual seja em projetos mais modestos financeiramente, isso não significa o fim dos grandes investimentos chineses na região. Em países da América Latina, ainda há grandes empreendimentos em setores como energia, mineração e infraestrutura tradicional, destacando a continuidade da presença chinesa em áreas-chave para o desenvolvimento regional.