Em uma resposta contundente às declarações do ex-presidente americano Donald Trump, a China acusou os Estados Unidos de “violar gravemente” os termos da trégua comercial estabelecida em 2020, invertendo a acusação feita pelo líder republicano no último fim de semana. O embate, que ganhou novos capítulos nesta segunda-feira (2/6), reacende o fantasma de uma guerra comercial global e coloca o Brasil em posição estratégica, dado seu papel como principal parceiro agrícola da China na América Latina.
O cerne da disputa
O acordo de “Fase Um”, assinado em janeiro de 2020, previa:
- Redução gradual de tarifas bilaterais (de 145% para 30% nos EUA e de 125% para 10% na China)
- Compromisso chinês de comprar US$ 200 bilhões em produtos americanos até 2021
- Abertura de mercados para setores como agricultura e serviços financeiros
Porém, dados do Peterson Institute for International Economics revelam que a China cumpriu apenas 57% das compras prometidas, enquanto os EUA mantiveram barreiras tecnológicas e restrições a empresas como Huawei.
Impactos para o Brasil
A escalada afeta diretamente os interesses brasileiros:
- Soja em alerta: Com possível retomada de compras chinesas de produtos agrícolas dos EUA, exportações brasileiras poderiam sofrer concorrência
- Custos logísticos: Tarifas americanas sobre aço e alumínio (que subiram para 50%) elevam preços de insumos industriais
- Oportunidade estratégica: China pode acelerar investimentos no Brasil para reduzir dependência de fornecedores americanos, especialmente em tecnologia e infraestrutura
Especialistas consultados pela Agência Brasil China destacam que o momento exige diplomacia ágil. “O Brasil não pode ser refém dessa disputa, mas sim usar sua posição privilegiada para ampliar parcerias”, analisa a economista Lia Valls, do IBRE/FGV.
Próximos capítulos
O governo chinês sinalizou possíveis medidas de retaliação, incluindo:
- Restrições a exportações de terras raras (cruciais para indústria de alta tecnologia)
- Acionamento da OMC contra as tarifas americanas
- Aceleração de acordos alternativos com parceiros como Brasil e Rússia
Enquanto isso, o Itamaraty monitora os desdobramentos. Em nota, a Assessoria Especial de Comércio Exterior afirmou que “o Brasil defende o multilateralismo e soluções negociadas”, sem comentar diretamente o impasse sino-americano.
Para investidores e exportadores brasileiros, a lição é clara: num mundo onde os gigantes comerciais trocam acusações e tarifas, a diversificação de mercados e o aprofundamento de parcerias estratégicas como a China se tornam não apenas vantajosos, mas essenciais.