China amplia compras e assume liderança nas exportações de alimentos do Brasil

Sobretaxa dos Estados Unidos derruba vendas e abre espaço para crescimento chinês e avanço do México

(Foto: Reprodução)

O Brasil exportou US$ 5,9 bilhões em alimentos industrializados em agosto, queda de 4,8% em relação a julho e de 1% frente ao mesmo mês de 2024. O recuo interrompe a sequência de crescimento do setor e reflete diretamente o impacto da tarifa adicional de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, especialmente açúcar e proteínas animais.

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), o movimento redesenha o mapa das exportações brasileiras. Enquanto os EUA reduziram drasticamente suas compras, a China disparou e adquiriu US$ 1,32 bilhão em produtos nacionais, alta de 51% em comparação a agosto do ano passado. O país asiático já responde por 22,4% do total exportado pelo setor.

EUA perdem espaço, China dispara

As vendas para os Estados Unidos despencaram em agosto: açúcar caiu 82,3% e proteínas animais recuaram 43,3%. A participação americana nas exportações caiu de 7,4% para 7%. A ABIA calcula que, até dezembro, as perdas para o mercado norte-americano podem chegar a US$ 1,35 bilhão.

Em contrapartida, a China reforçou sua posição como destino prioritário. Só em agosto, comprou US$ 909,7 milhões em proteínas animais (+67%) e US$ 326,7 milhões em açúcar (+20,2%), confirmando sua capacidade de absorver a produção brasileira e atenuar o impacto das barreiras comerciais impostas por Washington.

México surge como nova aposta

Outra novidade foi o salto das exportações para o México, que totalizaram US$ 221,15 milhões em agosto, representando 3,8% do total exportado. O destaque foi o crescimento de 368,5% nas compras de proteínas animais. Para analistas, o avanço mexicano sinaliza possível redirecionamento de fluxos antes destinados aos EUA.

Mercado interno garante fôlego

Apesar das pressões externas, a indústria alimentícia brasileira segue sólida no mercado doméstico. Entre janeiro e julho de 2025, o faturamento alcançou R$ 780 bilhões, crescimento nominal de 10,2% em relação a 2024. A produção física avançou 2% e as vendas reais, 2,8%.

O setor empregava em julho 2,114 milhões de trabalhadores formais, alta de 3,3% frente ao mesmo período de 2024. Foram criadas 67,1 mil vagas no último ano, e toda a cadeia produtiva já soma 10,5 milhões de ocupados, ou 10,3% do total da força de trabalho nacional.

Custos pressionam competitividade

O dinamismo do setor convive com aumento de custos. Insumos como milho, leite, cacau e café mantiveram preços elevados, enquanto embalagens subiram mais de 15% em um ano. O custo industrial de produção acumula alta de 7,9% em 2025, acima da inflação de alimentos e bebidas medida pelo IPCA (7,27%).

A ABIA projeta que as exportações gerais podem cair até 4,5% entre agosto e dezembro, encerrando o ano com recuo de 2%. O faturamento da indústria deve ter leve retração de 0,6%.

“É essencial preservar o diálogo comercial com os Estados Unidos, sem abrir mão da diversificação de destinos. O crescimento da China e a entrada do México mostram que o Brasil tem alternativas estratégicas, mas o equilíbrio é fundamental para manter empregos e competitividade”, afirmou João Dornellas, presidente executivo da entidade.

Principais números de agosto de 2025

  • Exportações totais: US$ 5,9 bilhões (-4,8% vs julho)
  • China: US$ 1,32 bilhão (+51% vs ago/24)
  • EUA: US$ 332,7 milhões (-27,7% vs julho)
  • México: US$ 221,15 milhões (+368,5% em proteínas)
  • Empregos: 2,114 milhões (+3,3% anual)

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