O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul dará um passo histórico em setembro com a estreia do Brics Pay, sistema de pagamentos que pretende reduzir a dependência do dólar no comércio internacional. A ferramenta foi desenvolvida a partir de um modelo descentralizado de mensagens fronteiriças (DCMS), criado pela Universidade de São Petersburgo, e promete oferecer mais autonomia financeira aos países do grupo.
A plataforma reunirá diferentes tecnologias de pagamento, incluindo o SBP, sistema russo que movimenta operações por meio de números de telefone e já conta com a adesão de mais de 200 instituições financeiras. No caso do Brasil, a novidade é a integração complementar ao Pix, o que permitirá que o mecanismo seja usado fora do país em operações com parceiros do BRICS.
De acordo com o economista Adenauer Rockenmeyer, delegado do Corecon-SP, o objetivo central da iniciativa é facilitar transações diretas em moedas locais, eliminando a necessidade de conversão para o dólar e reduzindo custos e taxas. “Isso tende a diminuir a exposição do Brasil às oscilações e às decisões da política monetária norte-americana”, afirmou.
Pix no exterior e fortalecimento do bloco
A inspiração no modelo brasileiro não passou despercebida. Segundo Rockenmeyer, o Brics Pay reforça o protagonismo do Pix como referência global em inclusão financeira. “Ele permitirá que cidadãos usem o Pix fora do Brasil, ao mesmo tempo em que fortalece o comércio dentro do bloco”, explicou.
A avaliação é de que o sistema possa desafiar a supremacia do dólar nas transações internacionais. Diferente do tradicional sistema SWIFT, o Brics Pay funcionará com infraestrutura descentralizada, o que dificulta o controle externo e a aplicação de sanções. “Cada operação fora do sistema tradicional reduz a influência da moeda norte-americana no comércio mundial”, destacou o especialista.
Impactos para o Brasil
Para o Brasil, a adoção do Brics Pay significa novas oportunidades de integração financeira e um reforço à estratégia de diversificação de parcerias internacionais. Além de baratear custos de transações comerciais, a plataforma pode aumentar a previsibilidade para empresas brasileiras que negociam com os demais países do bloco, reduzindo riscos cambiais e abrindo espaço para maior competitividade.
O lançamento da ferramenta também é visto como um marco político e econômico, em linha com os esforços do BRICS de consolidar-se como voz relevante do Sul Global no cenário internacional. Com o Brics Pay, o bloco sinaliza ao mundo que está disposto a construir alternativas ao modelo financeiro dominado pelo dólar, reforçando sua autonomia e capacidade de inovação.













