O Brasil começou a mostrar a que veio na presidência dos BRICS em 2025. Em tom direto, o assessor especial de Lula para assuntos internacionais, embaixador Celso Amorim, usou a reunião dos secretários de Segurança Nacional do bloco, realizada no último dia 30 de abril em Brasília, para criticar duramente a guerra tarifária e os riscos ao comércio multilateral. Sem citar nomes, o alvo era claro: os Estados Unidos e a recente retomada da política protecionista impulsionada por Donald Trump.
“A guerra de tarifas ameaça de morte o sistema multilateral de comércio”, alertou Amorim, reforçando a preocupação com o impacto das tensões comerciais nas cadeias globais de produção. Para ele, o mundo não pode retroceder ao tempo em que as negociações eram conduzidas de forma exclusivamente bilateral — uma crítica velada às práticas isolacionistas que marcaram a primeira presidência Trump.
O discurso ecoou o que já havia sido sinalizado dias antes, durante a reunião de chanceleres do BRICS no Rio de Janeiro. Em sua declaração conjunta, os 11 países do grupo voltaram a defender o fortalecimento das moedas locais nas transações entre os membros — um dos pilares da presidência brasileira neste ciclo. A proposta visa reduzir a dependência do dólar em meio às sanções e instabilidades cambiais provocadas por choques geopolíticos.
O documento final da reunião também criticou as chamadas “medidas coercitivas unilaterais”, como as sanções impostas sem aval de organismos multilaterais. A menção é especialmente sensível ao Irã, novo membro do BRICS e alvo de pressões econômicas renovadas por parte dos EUA. O país persa enfrenta novas sanções desde o início do ano, justificadas por Washington como forma de conter o avanço do programa nuclear iraniano e forçar um novo acordo.
Ao adotar esse tom, o Brasil dá um recado claro sobre o papel que quer desempenhar no cenário internacional em 2025: o de articulador de um sistema global mais equilibrado, plural e baseado na cooperação entre países do Sul Global. E, ao que tudo indica, essa será a linha da próxima cúpula de chefes de Estado do BRICS.