Brasil responde a Trump sobre investigação comercial em meio a escalada de tarifas

Governo brasileiro busca negociar em clima de pressão, enquanto China segue como maior parceiro e observa de perto as tensões comerciais entre Brasília e Washington

(Foto: Reprodução / ND)

O governo brasileiro entregou nesta segunda-feira (18) ao governo de Donald Trump sua resposta oficial à investigação comercial aberta pelos Estados Unidos, que acusa o Brasil de adotar práticas consideradas “desleais” e prejudiciais à economia americana. O documento foi protocolado pela Embaixada do Brasil em Washington e elaborado por uma força-tarefa envolvendo diferentes órgãos do governo.

A investigação, conduzida pelo Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR), foi anunciada em julho e já veio acompanhada de um “tarifaço” de 50% sobre parte dos produtos brasileiros vendidos ao mercado americano — incluindo carne bovina e café. Outros itens, como o suco de laranja e derivados do aço, foram posteriormente retirados da lista por decisão do próprio governo Trump.

Nos bastidores, diplomatas brasileiros relatam que as negociações com Washington têm sido travadas. Apesar do discurso de que o Brasil “não vai desistir de negociar”, como frisou o Itamaraty, há percepção de que Trump age com truculência e seletividade, punindo governos que não se alinham a ele e favorecendo países considerados mais próximos politicamente.

A versão de cada lado

Trump insiste em dizer que os EUA têm déficit comercial com o Brasil, mas números oficiais mostram o contrário: nos últimos 15 anos, os americanos acumularam superávit de mais de US$ 400 bilhões na relação bilateral, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Já os EUA alegam que práticas como o funcionamento do Pix, políticas de tarifas preferenciais, medidas anticorrupção e regras de propriedade intelectual estariam distorcendo a concorrência e prejudicando “empresas, trabalhadores, agricultores e inovadores tecnológicos norte-americanos”.

Se a investigação concluir que há práticas desleais, Washington poderá aplicar novas tarifas ou até suspender benefícios comerciais.

Brasil entre Washington e Pequim

O episódio ocorre num momento em que o Brasil equilibra sua diplomacia econômica entre Estados Unidos e China. Enquanto enfrenta pressão de Trump, Brasília fortalece laços com Pequim, hoje o maior parceiro comercial do país. Só em 2024, as exportações brasileiras para a China — puxadas por soja, minério e petróleo — superaram em muito as vendas aos EUA.

Nesse contexto, a ofensiva americana pode ter um efeito colateral: acelerar a diversificação dos mercados brasileiros e aproximar ainda mais o Brasil da China em setores estratégicos, como energia limpa, tecnologia e agronegócio.

Um teste para a diplomacia brasileira

Com a COP30 se aproximando em Belém e o Brasil em posição de destaque no debate climático, a pressão comercial dos EUA adiciona um novo desafio à política externa do governo Lula. O país precisa mostrar firmeza para proteger seus interesses sem fechar portas com Washington, ao mesmo tempo em que consolida sua parceria estratégica com a China e com os BRICS.

Em outras palavras, a disputa comercial não é apenas sobre tarifas, mas sobre o lugar do Brasil no jogo de forças globais. E nesse tabuleiro, Brasília tem buscado não ser apenas peça, mas também jogadora.

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