“Brasil precisa impor limites ao câmbio para proteger a indústria nacional”, defende Bresser-Pereira

Ex-ministro critica dependência econômica e alerta para os riscos da "timidez" do governo em adotar políticas protecionistas

(Foto: ABR | Brasil247)

Em uma entrevista concedida ao programa Forças do Brasil, conduzido pelo jornalista Mário Vítor Santos e transmitido pela TV 247, o economista, ex-ministro e pesquisador Luiz Carlos Bresser-Pereira compartilhou sua visão crítica sobre a economia brasileira, destacando temas como política cambial, neoliberalismo e industrialização. Ele defendeu a necessidade de o Brasil adotar uma postura mais ativa no controle do câmbio para evitar prejuízos à indústria nacional e criticou a resistência das elites locais a mudanças estruturais.

“O Brasil não enfrenta uma crise fiscal de verdade. O que temos é um problema fiscal que pode ser administrado, mas que exige medidas mais ousadas e uma postura mais clara em relação ao câmbio”, afirmou Bresser-Pereira. Ele também destacou que, apesar de não haver risco iminente de insolvência do país, a “timidez” do governo ao abordar a questão cambial compromete a competitividade da indústria nacional.

Crítica ao neoliberalismo e dependência externa

Bresser-Pereira não poupou críticas às elites econômicas e intelectuais brasileiras, que classificou como atrasadas e submissas ao neoliberalismo. “As elites brasileiras seguem um neoliberalismo arcaico, enquanto países como Estados Unidos e China já adotaram políticas industriais estratégicas que vão na contramão disso”, disse. O economista citou os subsídios industriais nos Estados Unidos e a política “Made in China”, de Xi Jinping, como exemplos de intervenção estatal eficaz para proteger economias nacionais.

Segundo ele, os brasileiros permanecem presos a ideias ultrapassadas, enquanto países desenvolvidos revisaram suas estratégias para lidar com a competição global, especialmente com a ascensão da China. “O Brasil precisa de uma política desenvolvimentista, que combine uma intervenção moderada do Estado com a defesa de interesses nacionais”, reforçou.

Doença holandesa e política industrial

Bresser também abordou a questão da chamada “doença holandesa” — fenômeno em que a valorização da moeda, causada pelo aumento das exportações de commodities, prejudica a competitividade da indústria local. Embora o Brasil não enfrente atualmente os efeitos dessa distorção, ele alertou para o risco de o problema voltar caso os preços das commodities subam novamente.

“Precisamos de uma política clara que neutralize os impactos da doença holandesa. Tarifas de importação e outras medidas podem ser usadas de forma estratégica para proteger a indústria”, sugeriu. Ele criticou o governo por não adotar uma posição mais firme sobre o câmbio e destacou a importância de uma reforma tarifária para garantir segurança aos investidores industriais.

Defesa de Haddad e críticas ao mercado financeiro

Ao avaliar a gestão econômica do governo Lula, Bresser-Pereira elogiou o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, segundo ele, tem lidado de forma competente com as limitações fiscais do país. No entanto, ele apontou a necessidade de maior ousadia para enfrentar pressões do mercado financeiro e adotar medidas heterodoxas.

“A ideia de que o Brasil está à beira do colapso é um exagero alimentado pelo mercado financeiro e por interesses que preferem um governo submisso aos rentistas e ao capital externo”, afirmou.

Livro e crítica de cinema

Nos minutos finais do programa, Bresser-Pereira falou sobre o lançamento de seu livro, organizado pelo professor Luciano Buarque de Holanda, que reúne críticas de cinema que escreveu na juventude. Ele aproveitou para destacar o filme brasileiro Ainda Estou Aqui, indicado ao Oscar em três categorias. “Há muito tempo o cinema brasileiro não produzia uma obra tão impactante. A interpretação da Fernanda Torres é extraordinária”, comentou.

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