Se mantido o ritmo esperado de vacinação contra o coronavírus, o Brasil pode atingir algum tipo de normalidade já em outubro e ampliar a reabertura econômica. A projeção é de analistas do banco suíço UBS, em relatório divulgado a clientes nesta semana.
A estimativa foi feita com base em dados de hospitalizações, vacinação esperada para os próximos meses e pirâmide etária brasileira. A expectativa, segundo o relatório, é que o Brasil consiga reduzir drasticamente as infecções e casos graves de covid-19 uma vez que a população de 30 anos ou mais esteja imunizada — o que os analistas preveem que pode acontecer até outubro com base nas doses anunciadas pelo governo.
Essa fatia de imunizados seria menor do que os 70% ou mais que especialistas avaliam como ideal para atingir algum tipo de “imunidade de rebanho”. Para que o Brasil chegasse a 70% da população imunizada, teria de vacinar também o grupo de adultos a partir de 20 anos.
No entanto, o relatório do UBS calcula que pode ser possível chegar ao que classifica como “imunidade de rebanho efetiva” quando o Brasil tiver vacinado uma fatia muito menor de pessoas, somente o grupo dos 30 anos ou mais, ou 56% da população.
Embora represente pouco mais da metade da população, o grupo a partir de 30 anos é responsável por mais de 95% das mortes, hospitalizações e internações em UTI. É sabido também que a covid-19 tem se mostrando menos letal em adolescentes e crianças.
“Assim, nomeamos a conquista da imunidade neste grupo [de 30 anos] e na população com mais de 60 anos como ‘imunidade efetiva’, permitindo que a atividade econômica se normalize”, escrevem os economistas Alexandre de Azara e Fabio Ramos, que assinam o relatório.
Até o momento, o Brasil vacinou com ao menos uma dose 17% da população, e pouco mais de 8,5% também com a segunda dose. Estão neste grupo sobretudo idosos acima de 70 anos e profissionais de saúde. Foram 54 milhões de doses aplicadas, segundo apuração do consórcio dos veículos de imprensa junto aos estados até a segunda-feira, 10.
O que é preciso para chegar lá?
Foram aplicadas no Brasil cerca de 16 milhões de doses por mês em março e abril. Mas, para estimar que haverá uma vacinação de todos os adultos de 30 anos até outubro, o UBS projeta um aumento significativo nesse número.
A aposta reside sobretudo nas entregas da vacina da AstraZeneca, hoje produzidas pela Fundação Oswaldo Cruz, além de parcela enviada pelo consórcio internacional Covax. Até agora, a Coronavac responde por quase oito em cada dez doses distribuídas no Brasil até o fim de abril.
Pelos cálculos do UBS, a vacina da AstraZeneca deve ultrapassar a Coronavac e se tornar a mais aplicada no Brasil já neste mês de maio. As projeções contam também com a chegada de doses compradas pelo governo federal de Pfizer e Johnson & Johnson — esta última, só a partir de outubro.
Não estão incluídas no cálculo futuras doses da vacina russa Sputnik V ou da indiana Covaxin, que ainda precisam ser aprovadas pela Anvisa.
Na outra ponta, para cumprir a projeção para os próximos meses, o Brasil terá de lidar com as dificuldades na compra de ingrediente farmacêutico ativo (o chamado IFA), hoje vindo da China. A demora na entrega do IFA tem atrasado a produção de vacinas no Brasil.
Já a fabricação de IFA nacionalmente deve ficar para o fim do ano: a Fiocruz chegou a prometer as primeiras doses para agosto, mas adiou a data para setembro e hoje especialistas já projetam o mês de outubro para o início das entregas. O Butantan também está construindo uma fábrica para fazer o insumo, que só deve começar a operar no ano que vem.