Brasil pode acelerar desenvolvimento de inteligência artificial com tecnologia chinesa, dizem analistas

Especialistas apontam que restrições ocidentais ao DeepSeek têm motivação comercial e ideológica, enquanto o Brasil pode se beneficiar do modelo chinês

(Foto: Reprodução/ IPM)

O avanço da inteligência artificial chinesa tem gerado reações de restrição por parte dos Estados Unidos e seus aliados, que buscam limitar o acesso de seus cidadãos à tecnologia desenvolvida pelo DeepSeek. A Coreia do Sul, por exemplo, já removeu o aplicativo das lojas digitais locais, enquanto Austrália, Taiwan e Itália também implementaram restrições. Nos Estados Unidos, agências como a NASA e a Marinha proibiram seu uso, alegando preocupações com segurança e privacidade. As informações foram publicadas pelo Sputnik Brasil.

Para o doutor em ciência política Diego Pautasso, a disputa em torno do DeepSeek é, antes de tudo, comercial e ideológica. “O Ocidente coletivo mobiliza barreiras para frear o avanço chinês em inteligência artificial, já que o DeepSeek oferece uma alternativa de alta performance a um custo muito menor”, afirmou o analista à Sputnik Brasil. Segundo ele, o modelo chinês desafia o monopólio das big techs norte-americanas e demonstra a capacidade de Pequim de inovar no setor tecnológico com menos recursos.

A diretora do curso de Relações Internacionais da PUC-Campinas, Kelly Ferreira, também vê um viés ideológico nas críticas ao DeepSeek. “Aplicativos norte-americanos acessam dados pessoais de maneira semelhante ao DeepSeek, mas são vistos como parte do modelo de negócios, enquanto a China é acusada de controle social”, destacou. Ela observa que essa narrativa antichinesa se consolida no Brasil, alimentada por percepções históricas e midiáticas.

Ferreira e Pautasso ressaltam que as únicas big techs comprovadamente utilizadas para manipulação política e vigilância são ocidentais. Como exemplo, citam o caso do Twitter, que, conforme documentos revelados, colaborou com o FBI e a CIA para influenciar debates políticos no Oriente Médio. “As big techs ocidentais foram amplamente utilizadas para dominação de dados e desestabilização de governos. No caso chinês, as acusações são baseadas em suposições”, afirmou Pautasso.

Apesar das restrições impostas pelo Ocidente, o DeepSeek continua avançando e se consolidando no mercado global. O modelo é parte de um robusto programa de inteligência artificial da China, que busca expandir sua economia digital. Além do DeepSeek, outras empresas chinesas como Tepfun, Zhipu, Minimax, Moonshot, 01.AI e Baichuan – conhecidas como os “seis tigres” – também disputam espaço no setor.

Brasil pode se beneficiar do DeepSeek

O Brasil ainda não desenvolveu modelos próprios de inteligência artificial e está atrás na corrida global pela nova tecnologia. Para Pautasso, o país poderia utilizar plataformas abertas como o DeepSeek para acelerar esse processo. “O modelo chinês, por ser aberto e barato, permite que países retardatários, como o Brasil, peguem atalhos e desenvolvam suas próprias soluções locais, adaptadas às suas regulamentações”, explicou.

O governo brasileiro já demonstrou interesse em avançar na área. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação lançou um programa abrangente de desenvolvimento de inteligência artificial, e o tema foi citado pelo Itamaraty como uma das prioridades do Brasil na presidência do BRICS em 2025.

Ferreira acredita que o Brasil não seguirá os passos dos Estados Unidos e seus aliados na imposição de restrições ao DeepSeek. “As boas relações do Brasil com a China e a crescente aplicação da inteligência artificial no país indicam que o governo não deve adotar barreiras contra essa tecnologia”, afirmou.

Pautasso reforça que as tentativas dos EUA de barrar avanços tecnológicos chineses já fracassaram em outros momentos, como na tentativa de impedir a disseminação da tecnologia 5G da Huawei e a restrição ao acesso da China a semicondutores. “Se essas estratégias não deram certo no passado, não há razão para acreditar que conseguirão conter o avanço do DeepSeek”, concluiu.

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