Brasil e China deram um passo histórico na integração de seus mercados financeiros. Nesta semana, o Ministério da Fazenda e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciaram o início do programa ETF Connect Brasil-China, uma ponte que permitirá a investidores brasileiros e chineses negociarem fundos de índice (ETFs) listados nos mercados dos dois países. A iniciativa, que começa a operar em fase piloto em agosto de 2025, marca um novo capítulo na relação econômica bilateral e pode atrair fluxos significativos de capital entre as nações.
Como funciona o ETF Connect?
O programa funcionará como um corredor regulado, onde investidores brasileiros poderão comprar ETFs chineses que replicam índices como o CSI 300 (das 300 maiores empresas de Xangai e Shenzhen), enquanto investidores na China terão acesso a ETFs brasileiros baseados no Ibovespa e no IBrX. A operação será facilitada por corretoras autorizadas nos dois países, com liquidação em moeda local — real para os chineses e yuan para os brasileiros.
“Estamos eliminando barreiras técnicas e regulatórias que antes limitavam o acesso direto”, explicou o secretário de Assuntos Internacionais da Fazenda, durante o lançamento. A medida complementa outros esforços recentes, como o acordo de cooperação em fintechs assinado em 2024 e a expansão do sistema de pagamentos em yuan no Brasil.
Oportunidades e riscos para investidores
Para o Brasil, o programa representa uma chance de diversificar sua base de investidores e reduzir a dependência de fluxos voláteis. “A China tem uma poupança gigantesca buscando alternativas à crise imobiliária local”, analisa uma economista-chefe de um grande banco de investimentos. Estima-se que o mercado chinês de ETFs movimente mais de US$ 400 bilhões — um prato cheio para empresas brasileiras que queiram ampliar sua visibilidade global.
Por outro lado, especialistas alertam para os riscos:
- Volatilidade regulatória: Mudanças bruscas nas regras chinesas podem impactar os fundos
- Exposição ao câmbio: Flutuações no yuan/real afetam retornos
- Diferenças culturais: Empresas chinesas têm estruturas de governança distintas
Contexto geopolítico
O lançamento ocorre em um momento estratégico:
- A China busca alternativas ao dólar em suas transações internacionais
- O Brasil tenta se posicionar como hub financeiro na América Latina
- Ambos os países enfrentam pressões comerciais dos EUA
“É uma resposta indireta ao protecionismo ocidental”, comenta um diplomata brasileiro em Pequim, sob condição de anonimato. O programa também sinaliza maturidade na relação Brasil-China, que avança do comércio de commodities para a integração financeira sofisticada.
Próximos passos
A fase piloto terá duração de 6 meses, com limite inicial de US$ 1 bilhão em transações totais. Se bem-sucedido, o modelo poderá ser expandido para:
- Inclusão de mais índices e setores
- Integração com outros produtos financeiros
- Possível extensão a outros países do BRICS
Enquanto isso, a B3 e a Bolsa de Xangai já preparam materiais educativos para investidores. “Queremos que o pequeno investidor também participe”, afirma o presidente da CVM. O desafio agora é garantir que essa ponte financeira beneficie ambos os lados — sem tornar o Brasil excessivamente dependente dos humores do mercado chinês.
Com reportagem adicional de Luiza Mendonça, correspondente em Xangai