Brasil e China anunciaram neste mês um novo capítulo em sua histórica cooperação espacial: o desenvolvimento conjunto do satélite CBERS-5, voltado especialmente ao monitoramento climático e ambiental. O acordo foi firmado entre a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Administração Espacial Nacional da China (CNSA) durante uma reunião bilateral em Pequim, e representa a continuidade de uma colaboração iniciada há mais de 30 anos.
O novo satélite integrará a série CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite), programa sino-brasileiro que já colocou em órbita cinco satélites desde 1999. A proposta do CBERS-5 é elevar a capacidade de observação da Terra, com sensores aprimorados para coleta de dados sobre desmatamento, uso do solo, queimadas, secas e outros fenômenos climáticos — uma demanda urgente em tempos de mudanças ambientais globais.
“Estamos diante de um marco importante para a ciência e para a soberania ambiental dos nossos países. O CBERS-5 será uma ferramenta estratégica não apenas para o Brasil e a China, mas também para outras nações do Sul Global que dependem de dados abertos e confiáveis para planejar políticas públicas ambientais”, afirmou o presidente da AEB, Marco Antonio Chamon.
Tecnologia em prol da sustentabilidade
O CBERS-5 será um satélite geoestacionário, com órbita a cerca de 36 mil quilômetros da Terra, o que permitirá uma cobertura contínua de áreas específicas, como a Amazônia e o Cerrado — dois dos biomas mais monitorados pelo Brasil. Segundo o acordo, a China ficará responsável por parte do desenvolvimento tecnológico e fabricação, enquanto o Brasil atuará no projeto da carga útil (sensores) e na recepção e distribuição dos dados por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
A previsão é de que o satélite esteja pronto para lançamento até 2028. O projeto também contempla transferência de tecnologia e formação de pessoal brasileiro, além de abrir espaço para a participação de universidades e centros de pesquisa em ambos os países.
“O CBERS-5 vai além de uma missão técnica: ele representa um compromisso político com o multilateralismo, com a ciência acessível e com o combate às mudanças climáticas, em uma era em que dados ambientais confiáveis são vitais para a tomada de decisão”, destacou Wang Zhigang, diretor da CNSA.
Uma parceria de décadas que ganha fôlego
Desde o lançamento do primeiro CBERS, em 1999, a parceria espacial entre Brasil e China se consolidou como uma das mais importantes entre países em desenvolvimento. O CBERS-4, ainda em operação, tem sido uma das principais fontes de imagens de satélite gratuitas utilizadas por governos e pesquisadores latino-americanos e africanos, com dados públicos disponíveis sem custo — uma política que reforça o papel social do programa.
O novo satélite, porém, trará avanços significativos: além de maior resolução e capacidade de atualização de imagens, o CBERS-5 terá foco especial em mudanças climáticas, sendo capaz de detectar variações na umidade do solo, aumento de áreas desertificadas e impactos de eventos extremos como enchentes ou incêndios florestais.
Projeção internacional e impacto regional
O anúncio do CBERS-5 chega em um momento de crescente relevância internacional da agenda climática. A inclusão do Brasil como sede da COP30, em 2025, e a liderança da China em projetos de energia limpa e políticas ambientais estratégicas, tornam os dois países protagonistas da discussão global sobre o futuro do planeta.
Para o Brasil, o satélite também pode ser uma ferramenta importante no monitoramento de compromissos ambientais assumidos em acordos internacionais e no combate ao desmatamento ilegal — especialmente na Amazônia Legal.
Além disso, a missão CBERS-5 fortalece o papel da cooperação Sul-Sul, promovendo uma alternativa concreta ao domínio de grandes potências nas tecnologias espaciais. “Trata-se de um exemplo claro de como Brasil e China podem unir forças em áreas de alto impacto estratégico, com benefícios reais para suas populações e para o planeta”, concluiu Chamon.
Com essa nova iniciativa, a relação Brasil-China avança para um novo patamar, onde ciência, meio ambiente e soberania tecnológica caminham lado a lado em direção a um futuro mais sustentável e multipolar.