O governo brasileiro autorizou a atracação de um navio da Marinha da China no Porto do Rio de Janeiro entre os dias 8 e 15 de janeiro do ano que vem. A permissão consta em documento do Ministério da Defesa que trata de “navios de guerra em portos e águas jurisdicionais brasileiras”, mas, na prática, a embarcação chinesa é um navio-hospital de grande porte batizado Ark Silk Road, equipado inclusive com helicóptero para apoio às operações.
O aval foi dado pelo Comando da Marinha em um momento em que os Estados Unidos atuam para conter a influência chinesa no Brasil e em toda a América Latina. Apesar do contexto sensível, a avaliação no Itamaraty é de que a visita do Ark Silk Road não deve atrapalhar as negociações em curso entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump para reduzir o chamado “tarifaço” aplicado por Washington. Para um embaixador ouvido pela coluna, a política externa brasileira se apoia justamente na capacidade de dialogar com parceiros de diferentes regiões.
Com 178 metros de comprimento, o Ark Silk Road reúne 300 leitos de enfermaria e 20 leitos de UTI, estruturados para missões humanitárias internacionais. A bordo, podem ser realizados procedimentos cirúrgicos complexos, semelhantes aos de um grande hospital em terra firme. Pintado de branco e com cruzes vermelhas em destaque no casco, o navio segue a padronização internacional para embarcações hospitalares utilizadas em operações de assistência médica.
A viagem ao Brasil ocorre no contexto da “Operação Harmony”, iniciativa lançada por Pequim que prevê o envio de navios-hospitais a diferentes países com o objetivo de reforçar laços diplomáticos por meio de cooperação em saúde. Nessas missões, a China costuma oferecer atendimentos médicos, cirurgias e capacitação profissional, projetando uma imagem de parceiro voltado à ajuda humanitária em vez de apenas à presença militar tradicional.
Questionada sobre o tipo de atendimento que será oferecido em águas brasileiras, a Marinha ainda não detalhou as atividades previstas durante a passagem do Ark Silk Road pelo Rio de Janeiro. A expectativa, porém, é que a escala da embarcação some mais um capítulo à estratégia brasileira de manter canais abertos com os principais atores globais, equilibrando interesses de segurança, diplomacia e cooperação internacional em um cenário de disputa crescente entre Washington e Pequim.













