O Brasil está se posicionando estrategicamente para ocupar um papel de destaque na geopolítica internacional das chamadas “terras raras” — um grupo de 17 elementos químicos essenciais para tecnologias de ponta, que vão de turbinas eólicas a carros elétricos, passando por smartphones e sistemas de defesa. Em meio à crescente tensão comercial entre Estados Unidos e China, o país surge como um possível player de equilíbrio nesse tabuleiro global.
A movimentação não é por acaso. Em junho de 2025, o governo federal anunciou um plano ambicioso para estruturar a cadeia produtiva nacional de terras raras, que envolve investimentos em pesquisa, incentivos à mineração sustentável e parcerias internacionais. A meta: transformar o Brasil em uma potência do setor nos próximos anos.
Riqueza ainda pouco explorada
Apesar de possuir uma das maiores reservas conhecidas desses elementos no mundo — especialmente nos estados de Minas Gerais, Amazonas e Goiás — o Brasil ainda é um exportador modesto. O novo plano quer mudar esse cenário ao incentivar a produção local com alto valor agregado e reduzir a dependência externa, inclusive da China, que hoje domina mais de 60% do fornecimento global de terras raras.
A expectativa é que o país consiga criar um ecossistema industrial robusto e sustentável. “Não se trata apenas de extrair, mas de transformar e industrializar aqui”, afirmou um porta-voz do Ministério de Minas e Energia. Nesse sentido, a criação de polos tecnológicos associados à mineração crítica e à metalurgia de precisão está entre as prioridades.
A China como parceira estratégica — e concorrente
Nesse cenário, a relação com a China adquire papel central. Por um lado, o país asiático é líder incontestável no refino e processamento de terras raras, com know-how e tecnologia altamente desenvolvidos. Por outro, enfrenta resistência crescente de potências ocidentais, que buscam diversificar suas fontes de suprimento em nome da segurança estratégica.
Para o Brasil, essa ambivalência abre espaço para costurar parcerias vantajosas. A China já demonstrou interesse em cooperar tecnicamente com o Brasil no desenvolvimento da cadeia de terras raras, como parte do aprofundamento das relações no âmbito dos BRICS. Além disso, empresas chinesas atuantes no setor buscam oportunidades para investir em mineração e infraestrutura no país, especialmente em regiões com alta concentração de depósitos.
Geopolítica dos elementos
O movimento brasileiro acontece em um momento em que o mundo está reavaliando suas cadeias de suprimentos críticas. A corrida por independência tecnológica e energética está no centro das políticas industriais de países como Estados Unidos, Alemanha e Japão — todos atentos ao controle da China sobre os insumos estratégicos do século XXI.
Nesse contexto, as terras raras deixam de ser apenas um recurso mineral e passam a ser um ativo geopolítico. Quem controla sua produção e distribuição ganha poder de barganha em temas que vão da segurança nacional à transição energética.
Brasil: entre oportunidade e desafio
Embora o cenário seja promissor, os desafios são significativos. A exploração de terras raras é complexa, cara e ambientalmente sensível. Exige regulação firme, tecnologia avançada e políticas públicas coerentes. Além disso, a formação de mão de obra especializada e a atração de investimentos privados serão cruciais para que o Brasil não apenas extraia, mas domine todo o ciclo produtivo.
Se conseguir trilhar esse caminho, o país poderá não apenas atender à crescente demanda internacional, mas também se posicionar como elo estratégico entre grandes potências, como China e Estados Unidos. A janela de oportunidade está aberta — e o Brasil, mais do que nunca, precisa saber aproveitá-la.