Após tarifa de 50%, governo Trump inicia investigação comercial contra o Brasil e cita “disputa amigável” com a China

Estados Unidos endurecem posição contra o Brasil em meio a tensões globais, mas mantêm tom mais brando com Pequim

(Foto: Reprodução / Shutterstock)

Depois de anunciar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras, o governo dos Estados Unidos deu início a uma nova etapa de pressão contra o Brasil: uma investigação comercial formal para apurar supostas práticas desleais por parte de empresas brasileiras em setores como energia, aço e agronegócio. A informação foi divulgada por veículos da imprensa americana nesta segunda-feira (14), e confirmada por fontes ligadas ao Departamento de Comércio dos EUA.

A medida, adotada sob o pretexto de “proteger a indústria e os empregos americanos”, aumenta o clima de incerteza nas relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos, especialmente após as recentes sanções tarifárias determinadas pelo presidente Donald Trump. Curiosamente, ao mesmo tempo em que aumenta a pressão contra o Brasil, o presidente norte-americano tem adotado um tom mais diplomático em relação à China — com quem mantém uma disputa comercial histórica, mas que, segundo Trump, agora ocorre de forma “muito amigável”.

“Nós lutamos com a China de maneira muito amigável, como deve ser entre grandes potências. Mas o caso do Brasil é diferente. Ali há práticas que precisam ser revistas e corrigidas”, afirmou Trump em entrevista a jornalistas em Washington, citada pelo jornal The Wall Street Journal.

A declaração reforça uma percepção já ventilada nos bastidores de Brasília: enquanto os EUA buscam reaproximar-se de Pequim para preservar o equilíbrio econômico global — em especial no contexto do dólar e da indústria de tecnologia —, o Brasil passou a ser visto pela Casa Branca como um alvo mais acessível para demonstrações de força em ano eleitoral.

Brasil pode buscar reforço da China e do BRICS

Diante desse cenário, analistas avaliam que o Brasil tende a aprofundar ainda mais suas relações comerciais com a China e com outros parceiros do BRICS como alternativa ao mercado norte-americano. Em 2024, segundo dados oficiais, a China foi responsável por quase 35% das exportações brasileiras, especialmente em setores como soja, minério de ferro, carne bovina e petróleo.

Para Ana Paula Oliveira, especialista em relações internacionais, a nova ofensiva americana pode acelerar o processo de redirecionamento estratégico já em curso no Brasil: “Em um momento em que o BRICS se fortalece e discute novos mecanismos de governança global, é natural que o Brasil busque ampliar sua integração com mercados onde haja menos interferência política e mais previsibilidade comercial — e a China é peça-chave nesse contexto.”

Setores afetados e impacto na economia brasileira

Os setores mais afetados pelas novas investigações e pelas tarifas incluem o agronegócio, especialmente a soja, a carne bovina e o açúcar, além de produtos industriais como aço e peças automotivas. Juntos, esses segmentos somaram em 2024 cerca de US$ 38 bilhões em exportações brasileiras para os EUA.

Segundo economistas ouvidos pela Agência Brasil China, o impacto mais imediato deverá ser sentido por empresas exportadoras brasileiras que dependem de contratos com clientes norte-americanos. Em contrapartida, Pequim já sinalizou interesse em ampliar as compras desses mesmos produtos, dentro da lógica de substituição de fornecedores.

China observa com atenção, mas mantém tom moderado

Até o momento, o governo chinês tem acompanhado a situação com atenção, mas sem declarações mais incisivas. Em nota divulgada na última sexta-feira (11), o Ministério das Relações Exteriores da China afirmou que “tarifas não devem ser instrumento de coerção” e reiterou seu compromisso com uma ordem econômica internacional multipolar e mais justa.

Para especialistas, essa postura reflete o pragmatismo chinês: Pequim mantém diálogo com Washington enquanto se consolida como parceiro de primeira linha para países emergentes como o Brasil, oferecendo alternativas concretas em áreas como infraestrutura, energia e agronegócio.

A equipe da Agência Brasil China continuará monitorando os desdobramentos desse caso e atualizando seus leitores com análises e informações em tempo real sobre o impacto das decisões norte-americanas para o comércio exterior brasileiro e as relações bilaterais Brasil-China.

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