Ao contrário do que se esperava, sanções contra a Rússia acabaram por fortalecer o BRICS

São vários pacotes de sanções econômicas que têm sido aplicados contra o país, a Rússia. Essas sanções ocorrem desde a saída de marcas globais do país e vão até a descontinuidade de voos das grandes companhias aéreas dos EUA e Europa para o país.

Diversas montadoras de automóveis deixaram o país, da mesma forma que marcas de grife e empresas multinacionais de alimentação, como McDonald’s e Burger King, entre outras. Com as sanções, os russos não podem mais usar cartões de bandeiras como MasterCard e Visa, sendo impedidos de acessar serviços básicos de streaming como Netflix e Spotify, por exemplo.

Mas a Rússia enxergou que o incremento da parceria com os países membros do BRICS seria a tábua de salvação para driblar o isolamento econômico imposto pelo Ocidente. Um exemplo disso é o incremento da exportação de petróleo para um importante integrante do grupo, o Brasil. Segundo uma reportagem da Agência Sputnik, reproduzida pelo Brasil 247, publicada em julho passado, o Brasil praticamente dobrou as importações de produtos petrolíferos da Rússia em termos anuais, atingindo 1,06 milhão de toneladas. O dado foi obtido pela Sputnik com base em um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Conforme informa o IBGE, em junho, a Rússia forneceu ao Brasil 1,06 milhão de toneladas de derivados de petróleo, ou 70% mais do que os volumes de junho de 2023. Ao mesmo tempo, o valor dos suprimentos também aumentou em 90%, chegando a US$683,5 milhões (R$3,71 bilhões). Assim, a Rússia continuou sendo o principal fornecedor de derivados de petróleo do Brasil. Um total de US$582 milhões (R$3,16 bilhões) em diesel e US$101 milhões (R$548,36 milhões) em gasolina foram exportados para o país.https://d-24477497824108711210.ampproject.net/2406131415000/frame.html

Mas não é somente a Rússia que aumentou suas exportações de petróleo para o Brasil. A Índia subiu para o terceiro lugar, aumentando suas remessas para o Brasil em 260% em termos anuais, e em 2.700% relativamente a maio de 2024, para US$146,7 milhões (R$796,48 milhões).

Além do Brasil, o volume de exportação do petróleo russo aumentou consideravelmente para outros países membros do BRICS, como China e Índia. Ao final de 2023, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak, afirmou que 90% das exportações de petróleo russo naquele ano tiveram como destino a China e a Índia. Do total, as exportações para a Europa caíram, em 2022, de cerca de 45% para aproximadamente 5%. As declarações foram feitas em entrevista ao canal de televisão Rossiya-24, segundo a Reuters. Segundo Novak, o complexo energético e de petróleo da Rússia se desenvolveu com sucesso em 2023 e que as restrições “apenas aceleraram o processo de reorientação” das exportações russas da commodity.

Em busca da independência do dólar

Hoje, o BRICS, além dos integrantes iniciais, África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, conta com novos membros que foram integrados em janeiro de 2024: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. Assim, o grupo agora representa mais de 40% da população mundial, com um PIB que chega a 31,5% da economia do planeta, superando os 30,8% do G7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, além da União Europeia). Esses são números ainda não atualizados, pois não constam os dados dos novos integrantes.

Entre os dias 10 e 11 de junho, na cidade russa de Nizhny Novgorod, ocorreu o Encontro de Ministros de Relações Exteriores do BRICS e países convidados. Na ocasião, os respectivos chanceleres dos países líderes do bloco indicaram que a multipolaridade no campo econômico é um caminho quase inexorável, pelo menos em relação ao desenvolvimento asiático e eurasiático.

O ponto culminante do encontro foi a divulgação de uma declaração conjunta de 54 pontos. Segundo o cientista político, pesquisador e professor de Relações Internacionais Bruno Beaklini, em resumo, o encontro enfatizou a necessidade dos países membros buscarem benefício direto para os países exportadores de commodities primárias; desenvolvimento econômico — seguindo o princípio de que prosperidade traz estabilidade —; e maior poder de decisão de cada Estado-membro ou associado. “Pela lógica imperial ocidental, estas posições estão muito distantes da projeção de poder dos Estados Unidos. O efeito direto é a desdolarização, ou seja, a diminuição progressiva, parcial e até total do uso do dólar estadunidense como moeda corrente e reserva de valor mundial”, avaliou em artigo publicado no Monitor do Oriente Médio em 15 de junho, conforme o link.

Cooperação cultural

Fica claro que o BRICS busca sua consolidação a partir de seu potencial econômico; assim, o grupo se projeta como uma alternativa geopolítica a uma ordem mundial liderada pelos EUA que já se mostra decadente e exaurida, se portando como legítimo representante do Sul Global. Mas essa nova ordem também busca uma autonomia cultural, diante da imposição dos valores ocidentais. Isso fica evidente em antigos membros do BRICS, como Rússia, China e Índia, e agora o Irã, além da Arábia Saudita.

Em julho de 2023, a cidade sul-africana de Mpumalanga recebeu a 8ª Reunião dos Ministros da Cultura dos BRICS. O tema do encontro foi “BRICS e África – Parceria para um Crescimento Mutuamente Acelerado, Desenvolvimento Sustentável e Multilateralismo Inclusivo” (https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/noticias/na-reuniao-do-brics-minc-defende-cooperacao-a-favor-das-industrias-culturais-e-criativas). No encontro foi divulgada uma Declaração sobre Cultura assinada por todos os ministros participantes, em que foi enfatizada a necessidade de aprofundar o intercâmbio intergovernamental sobre políticas de indústria cultural e criativa; fortalecer a articulação de recursos, plataformas e projetos da indústria cultural; ampliar a cooperação no mercado cultural; intercâmbio de habilidades e explorar o estabelecimento de um mecanismo de cooperação entre os BRICS para as indústrias culturais. O Brasil vai sediar o encontro em 2025.

O crescimento do BRICS é a descentralização do fluxo econômico no Ocidente

Em abril, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou a previsão de que a economia da Rússia deve crescer 3,2% em 2024, o que é mais do que o previsto para os EUA, países europeus e mesmo a maioria das nações do Sul Global. Para o Brasil, por exemplo, o FMI prevê um crescimento de 2,2% este ano. Por média, em 2023, Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul cresceram 3,92%, enquanto os Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Japão tiveram uma média de crescimento que não ultrapassou 1,04%.

Novos integrantes do BRICS, como o Irã, também parecem ter vencido as sanções do Ocidente. Segundo reportagem publicada em 14/07 pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil – Irã, o Banco Mundial (BM), em seu último relatório, previu que a economia do Irã crescerá 3,2% em 2024 e a taxa de inflação cairá para 35,3%. De acordo com a estimativa do organismo internacional, a economia do Irã experimentou um crescimento de 5% e uma inflação de 40,7% em 2023. O banco previu que o crescimento do setor não petrolífero do Irã, que foi de 3,8% no ano passado, atingirá 3,0% no ano atual (https://camiranbrasil.com/index.php/pt/noticias/economia/1125-banco-mundial-economia-do-ir%C3%A3-crescer%C3%A1-3,2-em-2024#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20estimativa,por%20cento%20no%20ano%20atual).

Banco fomenta desenvolvimento econômico dos participantes de forma sustentável

Um dos braços para o fomento das economias que integram o BRICS é o seu banco, denominado Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que atualmente é presidido pela ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Entre os dias 29 e 31 de agosto, acontece na Cidade do Cabo, na África do Sul, a 9ª Reunião do NDB. O tema deste ano, “Investindo em um Futuro Sustentável”,ressalta o comprometimento do Banco em abordar os desafios globais por meio do desenvolvimento sustentável. Segundo um informe do NDB em seu site, “o encontro servirá como uma plataforma crítica para discussões sobre como o NDB pode financiar infraestrutura e projetos sustentáveis em mercados emergentes e países em desenvolvimento com maior eficácia e excelência. Líderes, tomadores de decisão e profissionais de negócios se reunirão para discutir como promover investimentos para um futuro sustentável” – diz o comunicado (https://www.ndb.int/event/new-development-bank-ninth-annual-meeting/).

No Programa serão feitas apresentações sobre sistemas financeiros de ponta para desenvolvimento sustentável, perspectivas para investimentos sustentáveis, bem como painéis de discussão instigantes e discursos principais de figuras proeminentes. Os participantes discutirão e examinarão iniciativas cooperativas que solucionem problemas sociais e ambientais urgentes e as melhores práticas no cultivo de novos motores para crescimento sustentável.

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