No dia 11 de março de 2011, André Barbieri praticava snowboard em Mammoth Mountain, no estado norte-americano da Califórnia, quando sofreu um acidente e quebrou o fêmur da perna esquerda. Após cinco dias e quatro operações para tentar reconstituir sua perna, o membro acabou sendo amputado.
Agora, 11 anos depois, o gaúcho de Lajeado terá sua primeira experiência nos Jogos Paralímpicos de Inverno como único snowboarder brasileiro em Beijing 2022 – os outros representantes do país serão do esqui cross-country.
“O snowboard foi o esporte que quase custou a minha vida e me custou a perna. Estar em uma disputa no nível dos Jogos Paralímpicos já é uma vitória”, afirmou André em declarações publicadas no site do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).
Objetivo era o triatlo em Tóquio 2020
Atleta mais velho da delegação brasileira, com 40 anos, André começou a praticar triatlo e surfe adaptado após a amputação. Ele chegou a disputar Mundiais Paralímpicos de triatlo representando o Brasil, entre 2015 e 2018, e participou do evento-teste do esporte para os Jogos Rio 2016. Entretanto, acabou ficando fora do ranking final que definia os participantes da prova – eram dez atletas classificados na sua classe, e ele tinha sido o de número 11.
Sem poder competir na primeira edição dos Jogos Paralímpicos em seu país natal, o próximo objetivo estava definido: classificar-se a Tóquio 2020. Porém, ainda em 2018 ele foi saber que sua classe não estaria presente naquela edição do evento.
E foi aí que veio a ideia de regressar ao snowboard. Ele entrou em contato com a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) e iniciou sua trajetória rumo a Pequim – mas não sem antes viver um importante reencontro.
“Não foi nenhuma surpresa voltar ao snowboard, um esporte que amo tanto e que me custou a perna. Retornei à montanha onde [o acidente] aconteceu, para um desfecho, e foi uma jornada muito bonita, emocionante. Não há nenhum trauma”, comentou o brasileiro em declaração reproduzida no site do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, em inglês).
Exemplo para as filhas
André adquiriu uma prótese Moto Knee – criada pelo norte-americano Mike Schultz, vencedor de duas medalhas no snowboard nos Jogos Paralímpicos em PyeongChang 2018 – e começou a competir. Faltando alguns dias para sua estreia, ele se mostrou animado com a inédita experiência de defender seu país nos Jogos Paralímpicos:
“Estou super animado, empolgado e, ao mesmo tempo, nervoso. É uma responsabilidade gigante ‘carregar’ o Brasil nas costas. Vou tentar fazer o meu melhor. Um brasileiro nos Jogos Paralímpicos de Inverno, praticando snowboard, é como se fosse os jamaicanos no [filme] ‘Jamaica Abaixo de Zero’, comentou o gaúcho ao CPB, em referência à produção que é sempre citada por muitos brasileiros que participam dos Jogos de Inverno.
Além de representar o país, ele quer também ser um bom exemplo para sua esposa, Karina, e suas filhas Stella, a mais velha, e Maile, que nasceu coincidentemente em 11 de março, data na qual sua vida mudou.
“Sinto que sou um exemplo de resiliência às minhas filhas, uma tem três anos e a outra, 11 meses. Quando elas crescerem, vão aprender a grandiosidade do feito do pai delas. Devo muitos agradecimentos a todos que me possibilitaram ir para Pequim,” comentou o snowboarder, radicado nos EUA há 15 anos e que atualmente divide a rotina de treinos com o cargo de gerente de desenvolvimento de uma empresa de próteses.
Participação no slalom e no snowboard cross
Em Pequim, André Barbieri vai participar das provas de slalom, disputa na qual já confessou ter um pouco mais de dificuldades devido aos poucos treinamentos, e snowboard cross, em que recentemente conquistou uma medalha de prata e outra de bronze em uma etapa da Copa do Mundo realizada no Canadá.
“Os meus maiores desafios são a falta de treino no slalom, como expliquei antes, e saber que vou enfrentar adversários mais acostumados com as competições de snowboard. Além disso, ainda estou me adaptando às pranchas que usarei na China. Elas são mais rígidas. Estou testando e vendo quais funcionam melhor em determinadas provas. Por outro lado, não tenho nada a perder. Meus adversários não esperam que eu possa brigar por boas posições e posso surpreender neste sentido”, comentou o snowboarder.
O gaúcho, que competirá na classe SB-LL1, sabe que vai encarar atletas bem mais experientes nos Jogos Paralímpicos, mas mantém o otimismo.
“Tenho humildade, sei do meu lugar e sou consciente de que é difícil, mas tudo pode acontecer no snowboard. Atletas favoritos podem cair. Enfim, tem um pouco de sorte também. Quem sabe, eu consiga um top 10?”
André Barbieri inicia sua participação em Beijing 2022 nos dias 6 e 7 de fevereiro, com a disputa do snowboard cross, e encerra com o slalom, no dia 12 – no fuso dos EUA, onde mora o gaúcho, a prova começará em… 11 de março.
Exatamente 11 anos depois, será que a data voltará a ser marcante?