O governo do México aprovou recentemente uma medida que eleva significativamente as tarifas de importação para uma vasta gama de produtos originários de países com os quais não possui um acordo de livre comércio. Uma tarifa é, em termos simples, um imposto cobrado sobre mercadorias que entram no país. Ao aumentar essa taxa, o produto importado se torna mais caro, o que, na teoria, torna o produto nacional mais competitivo no mercado interno.
A decisão, que deve entrar em vigor a partir de 1º de janeiro de 2026, atinge o Brasil, a China e outros nove países, incluindo Coreia do Sul, Índia e Vietnã. A nova política tarifária abrange 1.463 classificações tarifárias — códigos internacionais que identificam e categorizam cada tipo de produto — distribuídas em 17 setores industriais. Entre os segmentos mais afetados estão o automotivo, têxtil, vestuário, siderurgia (produção de aço e ferro), eletrodomésticos, móveis, calçados e plásticos.
As novas alíquotas de imposto variam, mas a maioria foi ajustada para patamares entre 20% e 35%. Em alguns casos, como o de automóveis, a taxa pode chegar a 50%. Essa alíquota máxima é vista como uma forma de frear a entrada de montadoras, especialmente as chinesas, que têm ganhado espaço no mercado mexicano.
O objetivo oficial do México com essa medida é claro: proteger a indústria local, preservar empregos e fortalecer as cadeias produtivas internas. O governo estima que a decisão ajudará a manter cerca de 320 mil postos de trabalho no país e projeta um aumento de US$ 2,5 bilhões na arrecadação federal no próximo ano.
No entanto, a decisão não é vista apenas como uma estratégia de proteção econômica. Ela ocorre em um contexto de crescentes disputas comerciais globais e, segundo relatos, sob forte pressão de um importante parceiro comercial da América do Norte. Essa pressão sugere que a medida também serve como um alinhamento geopolítico, visando reduzir a dependência de importações de nações asiáticas e de outros grandes exportadores, como o Brasil.
Para o Brasil, que não possui um Acordo de Livre Comércio (ALC) com o México — um pacto que elimina ou reduz significativamente as barreiras alfandegárias entre países —, o aumento das tarifas representa um desafio para as exportações, tornando os produtos brasileiros menos competitivos e potencialmente esfriando as negociações para um futuro acordo bilateral. A medida impacta um volume de produtos que, no total, somam cerca de US$ 52 bilhões em importações mexicanas.
A reação internacional foi imediata. O Ministério do Comércio da China, por exemplo, lamentou a decisão unilateral e pediu ao México que “corrija suas práticas errôneas de unilateralismo e protecionismo”, indicando que a medida pode gerar atritos nas relações comerciais. Em suma, a nova política tarifária mexicana é um movimento estratégico que reconfigura o cenário comercial da América Latina, priorizando a economia interna, mas gerando ondas de preocupação em seus parceiros globais.













