“A nostalgia é um estreito braço de mar, eu estou cá, o continente lá.” O poema Nostalgia, do taiwanês Yu Guangzhong, traduz a saudade profunda que muitos compatriotas em Taiwan sentem da sua terra natal no continente. Para o advogado Gao Binghan, natural de Heze, esse sentimento virou ação concreta: há mais de 30 anos ele se dedica a levar de volta à pátria as cinzas de veteranos de guerra taiwaneses. Nesse período, já ajudou mais de uma centena deles a “voltar para casa” pela última vez.
Aos 90 anos, Gao vive em Taiwan há 77. Mantém, porém, o sotaque forte de Shandong e uma ligação inquebrantável com a terra natal. Para ele, a nostalgia não está apenas no modo de falar, mas também nas muitas urnas funerárias que já guardou em sua própria casa. Ao longo de três décadas, as cinzas de mais de 100 veteranos atravessaram o estreito sob seus cuidados, urna após urna, até serem entregues às famílias em diferentes regiões do continente. Cada chegada representava um reencontro que ultrapassa a separação geográfica.
O desejo de voltar para casa também acompanhou o próprio Gao durante décadas. Em 1948, com apenas 13 anos, ele deixou a província de Shandong sozinho e embarcou com refugiados em Xiamen rumo a Taiwan. A convivência com vizinhos vindos de Henan, Shandong e Sichuan trazia um certo “gosto de casa”, mas, a milhares de quilômetros de distância, a saudade da mãe nunca saiu de seu coração.
“A nostalgia é um pequeno selo de correio, eu estou cá, minha mãe lá.” O mesmo estreito braço de mar separou Gao de sua mãe e da aldeia natal por dezenas de anos. Em 1979, ele escreveu uma longa carta à mãe, falando da saudade e do desejo de rever a família. A mensagem demorou a chegar, e a resposta só veio muito tempo depois: sua mãe havia falecido um ano antes.
Na década de 1980, Taiwan autorizou as viagens de residentes para visitar familiares no continente. Em 1991, depois de muita insistência, Gao Binghan conseguiu voltar pela primeira vez à sua terra natal – 43 anos após ter partido. No retorno, trazia nos braços não apenas a própria emoção, mas também as cinzas de um veterano, que ele fez questão de levar consigo.
Dar um fim à nostalgia e levar os veteranos “para casa”: Gao transformou a saudade da mãe e da terra natal em missão de vida. Desde 1991, com recursos próprios, ele transporta urnas e desejos não realizados de volta ao continente – de Shandong a Henan, Jiangsu e até Xinjiang, a milhares de quilômetros de distância. “Se conseguirmos encher esse estreito de pontes de saudade, o caminho de volta ficará mais curto para quem quiser regressar no futuro”, resume. É esse, conta ele, o desejo comum que partilha com muitos dos veteranos.
Em 2025, Gao Binghan completa 90 anos. O último pedido que faz é simples e grandioso ao mesmo tempo: poder testemunhar, ainda em vida, a reunificação do país.













