Quando se pensa no agronegócio brasileiro, a soja e a carne muitas vezes dominam o discurso. Mas, nos últimos meses, a China tem voltado seu foco para duas culturas até então menos destacadas — milho e farelo de etanol de milho —, provocando um movimento que acena com crescimento, adaptação e novos desafios para o setor.
Para o produtor brasileiro, isso significa uma janela de oportunidade. O país já conta com grande parte da infraestrutura necessária — transportes, pátios, silos —, e agora está diante de um impulso adicional: a possibilidade de diversificar a pauta exportadora e, com isso, aumentar receita e mitigar riscos de concentração. A demanda chinesa, conforme relatado por participantes do mercado, registra saltos duplos-digito no embarque desses produtos.
A abertura chinesa para o farelo de etanol de milho (DDG/DDGs) é especialmente relevante. Esse subproduto da produção de combustível vegetal ganha escala no Brasil e vem sendo integrado à cadeia de alimentação animal, o que faz sentido diante da pressão global por fontes de proteína mais sustentáveis. Já o milho em grãos fortalece sua posição como alternativa competitiva, beneficiada pela logística nacional e pelos custos relativamente moderados comparados a outras origens do grão.
Mas não se trata apenas de embarque: é também sobre preparação. Exportar para a China exige rastreabilidade, cumprimento de protocolos sanitários e, frequentemente, certificações que vão além do básico. Essa realidade exige que cooperativas, produtores e exportadores reforcem controles, adaptem contratos e se antecipem às exigências chinesas. Em outras palavras, o salto de volume deve vir acompanhado de salto de qualidade.
Gestores e analistas reforçam que esse momento pode atuar como catalisador para o agro nacional. Vai além da colheita e da logística — trata-se de fortalecer cadeias, modernizar plantas industriais e desenvolver nichos de maior valor agregado. Produzir muito é importante; produzir bem, com padrão internacional, torna-se o novo critério de competitividade.
Sob essa perspectiva, o agronegócio brasileiro enfrenta um período de dupla exigência: atender o volume que a China solicita e adaptar-se a padrões que a China define. A boa notícia: esse país já tem histórico de parcerias produtivas com o Brasil, o que facilita o preparo do ecossistema exportador. Como a estrada agora se abre para milho e farelo de etanol de milho, o Brasil pode ter mais jogo de cintura para negociar, diversificar e aumentar sua participação global no agro.
Num campo de oportunidades complexas, o desafio é que a renda adicional chegue aos agricultores, que os investimentos em irrigação e armazenagem sejam distribuídos e que a dependência de poucos compradores ceda lugar a portfólios mais amplos. Se o Brasil fizer isso, poderá transformar essa fase de demanda acelerada em vantagem sustentável — com corretores menos vulneráveis e produtores mais fortes.
A China está abrindo mais uma porta para o agro brasileiro; cabe ao país atravessá-la de modo prudente, produtivo e com os pés bem no solo.













