O segundo mês de vigência das tarifas impostas pelo governo Donald Trump sobre produtos brasileiros provocou forte impacto nas exportações do Brasil aos Estados Unidos. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (6) pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as vendas para o mercado norte-americano caíram 20,3% em setembro, somando US$ 2,57 bilhões, enquanto as exportações para a China subiram 14,7%, alcançando US$ 8,69 bilhões.
No acumulado de janeiro a setembro, as exportações brasileiras aos EUA somaram US$ 29,2 bilhões, um leve recuo de 0,6% frente ao mesmo período de 2024. Já as vendas para a China, embora em alta no mês, ainda registram queda de 1,4% no ano, totalizando US$ 76,5 bilhões.
A queda nas exportações aos EUA reflete diretamente o “tarifaço” de 40% aplicado por Washington em agosto sobre uma série de produtos brasileiros. Entre os itens mais afetados estão carne bovina (-58%), açúcar e melaço (-77%), armas e munições (-92%), tabaco (-95,7%), e torneiras e válvulas de aço (-87,6%). Mesmo produtos fora da lista tarifária, como ferro gusa (-41%) e celulose (-27%), registraram queda expressiva.
De acordo com Herlon Brandão, diretor do Departamento de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do MDIC, a tendência é de que as exportações para os Estados Unidos continuem caindo nos próximos meses. “É uma barreira tarifária muito grande, não só para o Brasil”, afirmou. Segundo ele, embora o país tenha batido recorde de exportações aos EUA em 2024, os efeitos das tarifas começaram a se refletir de forma mais clara a partir de agosto.
China compensa parte das perdas
Em contraste, o comércio com a China segue aquecido. As importações chinesas de produtos brasileiros cresceram quase 15% em setembro, sustentadas principalmente por soja, carne bovina e minério de ferro. Ao mesmo tempo, as compras brasileiras da China também aumentaram 9% no mês e 14,9% no acumulado do ano, somando US$ 54 bilhões.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a pedir a Donald Trump, em videoconferência de 30 minutos realizada no mesmo dia da divulgação dos dados, a retirada das sobretaxas sobre os produtos nacionais.
Balança comercial recua 41%
Mesmo com o bom desempenho das vendas à China, o superávit da balança comercial brasileira caiu 41,1% em setembro, totalizando US$ 2,99 bilhões. O resultado é consequência de US$ 30,53 bilhões em exportações e US$ 27,54 bilhões em importações. Em agosto, o saldo havia sido de US$ 5,86 bilhões.
O MDIC ressaltou, contudo, que o volume exportado em setembro foi o maior da série histórica para o mês, com alta de 10,2%. O preço médio dos produtos, por outro lado, recuou 2,5%.
Agropecuária mantém desempenho positivo
A agropecuária brasileira segue como motor das exportações, com alta de 18% em setembro e total de US$ 6,7 bilhões. O desempenho foi impulsionado por aumentos nos preços do milho (22,5%), café (11%) e da carne bovina (55,6%). A soja manteve estabilidade de preços após meses de queda.
Na indústria de transformação, as exportações cresceram 2,5%, atingindo US$ 16,9 bilhões, com destaque para automóveis de passageiros (+50%) e óleos combustíveis (+4,1%).
Perspectivas
Para o governo, o desafio agora é reequilibrar a pauta comercial diante da retração das exportações para os EUA e das incertezas globais. O fortalecimento do comércio com a China e outros mercados asiáticos é visto como fator essencial para sustentar o crescimento das exportações e preservar o superávit brasileiro até o fim de 2025.