O bloco econômico BRICS — formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e novos integrantes como Egito, Emirados Árabes Unidos, Irã e Indonésia — está prestes a lançar uma de suas iniciativas mais ambiciosas: o BRICS Pay, um sistema de pagamentos internacionais inspirado no Pix, com o objetivo de reduzir a dependência do dólar nas transações entre os países-membros.
Com tecnologia blockchain e capacidade para processar até 20 mil transações por segundo, a plataforma promete transferências rápidas, seguras e de baixo custo, conectando bancos centrais e instituições financeiras. A ideia é simples, mas poderosa: permitir que exportadores e importadores negociem diretamente em moedas locais — como real, yuan e rúpia — sem precisar converter para dólar ou euro, reduzindo custos e riscos cambiais.
O modelo brasileiro do Pix, que movimentou R$ 7 trilhões apenas no primeiro trimestre de 2025, serviu como referência central. Segundo autoridades do bloco, a experiência do Brasil com pagamentos instantâneos foi decisiva para criar um formato adaptado ao comércio exterior. Essa influência é tão forte que o Banco Central do Brasil e técnicos brasileiros estão diretamente envolvidos no desenho da interoperabilidade entre os sistemas nacionais de pagamento, como o Pix, o SBP russo, o UPI indiano, o IBPS chinês e o PayShap sul-africano.
Para o Brasil, os benefícios podem ser significativos: além de cortar taxas de conversão, o BRICS Pay pode ampliar o alcance de exportações para mercados como China e Índia — hoje grandes compradores de grãos, carne e minérios brasileiros — e também abrir novas oportunidades em países como Irã e Emirados Árabes, onde as operações em dólar sofrem restrições. Já para a China, maior economia do bloco e principal parceiro comercial do Brasil, a plataforma ajuda na estratégia de internacionalizar o yuan e criar alternativas ao sistema financeiro dominado pelo Ocidente.
O movimento acontece em um momento de tensões geopolíticas, com os Estados Unidos vendo o projeto como uma ameaça à hegemonia do dólar — responsável por 84% das transações globais. Autoridades americanas já sinalizaram possíveis retaliações, enquanto especialistas do BRICS afirmam que o novo sistema fortalece a autonomia financeira do Sul Global.
Apesar do potencial, o caminho não é livre de obstáculos: a harmonização tributária, a integração tecnológica entre sistemas tão distintos e a necessidade de consenso político entre os membros são desafios consideráveis. Ainda assim, o lançamento do BRICS Pay, previsto para começar em fases de testes lideradas por China e Rússia, sinaliza que o bloco está disposto a investir pesado nessa mudança.
Com a presidência rotativa do BRICS marcada para 2026, o Brasil terá um papel central na consolidação do sistema. Se o BRICS Pay cumprir o que promete, não será apenas uma vitória para o bloco — será também um marco para a cooperação econômica Brasil–China e um passo concreto rumo a um comércio internacional menos dependente do dólar.