O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com firmeza às recentes ameaças do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prometeu taxar produtos de países do BRICS caso retorne ao poder em 2025. Em entrevista coletiva durante a cúpula do grupo, realizada no Rio de Janeiro, Lula classificou as declarações de Trump como “irresponsáveis” e reafirmou que o BRICS não nasceu com o propósito de confrontar outras nações, mas sim de ampliar a cooperação e buscar mais equilíbrio nas relações internacionais.
“Trump tem que aprender que respeito é bom, e a gente gosta. O BRICS não foi criado para afrontar ninguém, e sim para construir um mundo mais justo”, disse Lula, em tom direto, criticando o uso das redes sociais como palanque para ameaças econômicas.
O ex-presidente dos EUA publicou recentemente que, se eleito novamente, adotará tarifas mais duras contra países “inimigos da economia americana”, incluindo membros do BRICS como China, Rússia e Brasil. A afirmação foi mal recebida em Brasília e Pequim, gerando reações imediatas.
BRICS como alternativa ao eixo ocidental
Durante sua fala, Lula destacou que o BRICS é uma iniciativa de países em desenvolvimento que buscam ter mais voz nas decisões globais. “Queremos participar da construção de novas regras, não de novas guerras”, afirmou. Ele também apontou que a ampliação do grupo para incluir países como Irã, Egito, Etiópia e Emirados Árabes demonstra que há uma demanda crescente por modelos de governança global mais representativos.
A China, principal alvo das críticas de Trump, manifestou apoio à posição brasileira. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores chinês destacou que “as ameaças unilaterais violam o espírito do multilateralismo e da cooperação pacífica”. A aliança estratégica entre Brasil e China, construída ao longo das últimas décadas, se fortaleceu ainda mais com a adesão a projetos conjuntos como o CBERS (sistema de satélites), cooperação agrícola e infraestrutura logística.
Economia global em transição
Para analistas, o embate verbal entre Lula e Trump sinaliza um novo capítulo nas tensões comerciais globais, num momento em que o mundo ainda enfrenta os efeitos da pandemia, mudanças climáticas e instabilidade geopolítica.
“O BRICS, hoje, representa quase metade da população mundial e mais de 30% do PIB global em paridade de poder de compra. Naturalmente, isso incomoda quem estava acostumado a ditar sozinho as regras do jogo”, comenta André Santos, professor de Relações Internacionais da UFABC.
O Brasil, que atualmente ocupa a presidência rotativa do bloco, tem enfatizado o papel do BRICS na construção de pontes — especialmente entre o Sul Global e as potências tradicionais. Na prática, isso se reflete em propostas como a ampliação do banco do BRICS, com novos financiamentos para projetos sustentáveis, e o estudo de uma moeda de referência para transações comerciais dentro do grupo.
Respeito e soberania como princípios
Ao concluir sua fala, Lula reiterou que o Brasil seguirá apostando no diálogo e na diplomacia como caminhos para resolver divergências. “O Brasil é um país soberano. E quem quiser nos tratar como adversários comerciais vai encontrar um país que não se curva, mas que prefere sempre a parceria ao confronto”, declarou.
A cúpula do BRICS continua nesta semana com encontros bilaterais e painéis temáticos. O foco brasileiro está em fortalecer laços com países africanos e asiáticos, além de consolidar o bloco como voz ativa em fóruns multilaterais como a ONU e a OMC.
Diante das ameaças, a resposta de Lula deixa claro: o BRICS não teme provocações — mas não pretende imitá-las.