Durante a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, o Brasil intensificou seus esforços diplomáticos para retomar o fluxo de exportações de carne de frango para a China, suspensas após o surto de gripe aviária no país. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, aproveitou o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, para reiterar pessoalmente o pedido de reabertura do mercado.
Segundo Fávaro, a China — maior parceiro comercial do Brasil — já está ciente de que o país foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como livre da influenza aviária de alta patogenicidade em granjas comerciais. Ainda assim, as restrições impostas por Pequim permanecem, afetando um comércio que movimentou cerca de US$ 1,3 bilhão em 2024, com 562 mil toneladas de carne de frango exportadas.
“O primeiro-ministro Li Qiang demonstrou atenção ao nosso pleito e se comprometeu a analisar o caso com celeridade”, afirmou Fávaro à imprensa após a reunião. Atualmente, a China responde por aproximadamente 15% das exportações brasileiras de frango, sendo um mercado-chave para o setor.
Pressão técnica e diplomática
O Brasil já conseguiu convencer 23 países a derrubar completamente as restrições impostas após o surto, incluindo os Emirados Árabes Unidos, segundo maior destino do frango brasileiro. No entanto, mercados relevantes como Japão e Arábia Saudita ainda mantêm barreiras parciais — restritas a regiões específicas do Rio Grande do Sul, onde foram identificados os focos iniciais da gripe.
A reabertura do mercado chinês é considerada prioritária pelo governo brasileiro, não apenas por sua magnitude econômica, mas também por seu potencial de influenciar outros países. “Se a China e a União Europeia liberarem o acesso, isso criará um efeito dominó entre os mercados ainda cautelosos”, avalia uma fonte do Ministério da Agricultura.
Febre aftosa e reconhecimento estratégico
Além da gripe aviária, o ministro Fávaro também solicitou o reconhecimento oficial, por parte da China, do novo status do Brasil como país livre de febre aftosa sem vacinação — um avanço sanitário concedido pela OMSA em maio deste ano. Esse selo pode abrir as portas para um salto nas exportações de carne bovina, especialmente para mercados que exigem níveis sanitários mais elevados.
Ainda que a OMSA tenha validado o status, cada país é livre para decidir se adere ou não ao reconhecimento. No caso da China, que já é o maior comprador de carne bovina brasileira, esse gesto poderia consolidar ainda mais a parceria comercial bilateral. Em 2023, o gigante asiático respondeu por mais de 60% das exportações brasileiras de carne bovina.
Regionalização e confiança mútua
Outro ponto discutido com Li Qiang foi a proposta brasileira de regionalização dos certificados sanitários, permitindo que eventuais restrições sejam aplicadas apenas a áreas afetadas e não a todo o território nacional. A medida visa oferecer maior previsibilidade ao agronegócio e evitar perdas econômicas em cadeia por causa de incidentes pontuais.
Para a China, a confiança na segurança sanitária brasileira é central para manter o fluxo de proteínas animais. Para o Brasil, manter o mercado chinês aberto é uma questão estratégica — tanto comercial quanto simbólica. A parceria entre os dois países, já consolidada em áreas como infraestrutura e energia, se expande agora para uma fase de afinamento técnico e diplomático no agronegócio.
O encontro entre Lula e Li, à margem da cúpula do BRICS, reforça o papel do grupo como plataforma de diálogo pragmático entre países emergentes. E mostra que, mesmo em meio a crises sanitárias globais, a confiança e a transparência seguem sendo os principais ativos para manter viva a ponte Brasil-China.