Brasil e China firmam acordo estratégico para ferrovia transcontinental ligando Bahia ao Pacífico

Parceria prevê estudo de viabilidade de corredor logístico entre o Brasil e o Peru, com potencial de transformar rotas de exportação para a Ásia

(Foto: Reprodução / Michel Corvello / Ministério dos Transportes)

Os governos do Brasil e da China deram um passo significativo rumo à integração logística sul-americana com a assinatura, nesta semana, de um acordo para estudar a viabilidade de uma ferrovia transcontinental ligando a Bahia ao porto de Chancay, no Peru. O projeto, ambicioso e de longo prazo, tem como objetivo facilitar o escoamento da produção brasileira para o Oceano Pacífico e, a partir daí, acelerar o acesso aos mercados asiáticos — com destaque para a China, maior parceiro comercial do Brasil.

O memorando de entendimento foi assinado de forma virtual entre a empresa pública Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes, e o Instituto de Pesquisa e Planejamento Econômico da China Railway, braço técnico da gigante ferroviária chinesa. A parceria marca o início de um estudo aprofundado de viabilidade técnica, econômica e ambiental da ferrovia, que deverá atravessar os estados de Bahia, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre até chegar ao litoral peruano.

Embora ainda não haja estimativas de custo nem cronograma para a construção, o acordo tem validade inicial de cinco anos e pode ser prorrogado. Segundo o secretário nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Ribeiro, trata-se de “um primeiro passo técnico e diplomático para aproximar continentes, reduzir distâncias e reforçar a relação de longo prazo com a China”.

A ferrovia e o novo eixo Brasil-Pacífico

A proposta da ferrovia é estratégica não apenas para o Brasil, mas para todo o continente sul-americano. Atualmente, grande parte das exportações brasileiras para a Ásia passa por portos do Atlântico e atravessa o Canal do Panamá, em um percurso que pode levar até 40 dias. Com a nova ferrovia integrada ao porto de Chancay, no Peru — inaugurado em 2024 com financiamento chinês —, esse tempo poderia cair para 28 dias, segundo projeções do governo peruano.

O porto de Chancay é uma das principais apostas da China na América do Sul dentro da chamada Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative), o megaprojeto de infraestrutura global lançado pelo presidente Xi Jinping para fortalecer a conectividade entre continentes. Embora o Brasil ainda não tenha aderido formalmente à iniciativa, a cooperação atual com Pequim reflete o interesse mútuo em projetos de infraestrutura que contribuam para o desenvolvimento regional.

Intermodalidade e sustentabilidade no centro do acordo

Além da ferrovia transcontinental, o acordo prevê a realização de estudos sobre a integração da infraestrutura logística brasileira como um todo. Estão incluídos, nesse esforço, a análise de conexões entre ferrovias, rodovias e hidrovias, com foco em eficiência, segurança e sustentabilidade. A meta é propor soluções que reduzam o custo do transporte de cargas e estimulem o uso de modais menos poluentes.

O Brasil, com sua vasta produção de grãos, minérios e carnes, é um fornecedor essencial para a China. Ampliar as opções logísticas é uma forma de aumentar a competitividade do agronegócio nacional e tornar o escoamento mais resiliente a crises portuárias, variações cambiais e gargalos logísticos — desafios que têm se intensificado nos últimos anos.

Impacto esperado e oportunidades para o Brasil

Para especialistas em comércio exterior e logística, o projeto abre uma janela de oportunidades para o Brasil reforçar sua posição como fornecedor confiável para a Ásia. O centro-oeste brasileiro, especialmente Mato Grosso, que responde por grande parte da produção de grãos do país, seria diretamente beneficiado pela criação de um novo corredor de exportação.

“A ferrovia Bahia-Peru pode ser um divisor de águas no transporte brasileiro. Vai além da logística: é uma alavanca geopolítica que reposiciona o Brasil no mapa global”, avalia Ana Paula Oliveira, consultora de relações internacionais da FGV.

O projeto também é visto como uma forma de consolidar a presença chinesa no desenvolvimento de infraestrutura brasileira, mas de maneira pragmática e baseada em ganhos mútuos, sem compromissos geopolíticos formais. Como destacou o Ministério dos Transportes, a prioridade é garantir que os investimentos tragam benefícios concretos para a economia brasileira e respeitem os parâmetros de sustentabilidade ambiental e social.

Brasil e China: conectando continentes por trilhos

A assinatura do acordo reforça a confiança mútua entre Brasil e China, que vêm aprofundando laços comerciais, tecnológicos e diplomáticos. Só em 2023, o comércio bilateral superou US$ 150 bilhões, com destaque para soja, minério de ferro, petróleo e carne.

Agora, com os trilhos apontando para o Pacífico, o Brasil sinaliza que está pronto para encurtar ainda mais as distâncias com a Ásia — e a China, por sua vez, se posiciona como parceira-chave para esse novo ciclo de conectividade e desenvolvimento regional.

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