Loucura das “tarifas recíprocas”: Como a guerra comercial dos Estados Unidos prejudica seu próprio povo e a economia global

O mito de que as tarifas oneram principalmente os produtores estrangeiros desmorona sob escrutínio. Na realidade, os consumidores dos EUA acabarão pagando a conta por meio de preços mais altos.

(Foto: Reprodução/ Liang Sen/ Xinhua)

Em uma época em que a interdependência global define a prosperidade, a recente adoção de “tarifas recíprocas” pelos Estados Unidos representa um perigoso retrocesso.

Sob o pretexto de nivelar o campo de jogo e combater “práticas comerciais desleais”, essas políticas ergueram mais barreiras que apenas aumentarão os custos para as famílias americanas, interromperão as cadeias de suprimentos e ameaçarão a estabilidade de todo o sistema de comércio internacional.

Conforme alertam economistas e especialistas em comércio, essa estratégia protecionista é um exemplo clássico de “dar um tiro no próprio pé”, causando danos muito maiores aos consumidores e às empresas dos EUA do que aos alvos pretendidos.

ÔNUS MAIS PESADO PARA AS FAMÍLIAS

O mito de que as tarifas oneram principalmente os produtores estrangeiros desmorona sob escrutínio. Na realidade, os consumidores dos EUA acabarão pagando a conta por meio de preços mais altos.

O Instituto Peterson de Economia Internacional estimou que o plano tarifário dos EUA para 2025 poderia custar US$ 2.500 por ano a uma família americana média devido ao aumento do custo das importações, incluindo itens essenciais do dia a dia, como eletrônicos, roupas e alimentos. Por exemplo, a tarifa de 25% sobre automóveis e peças importadas deverá aumentar o preço médio de um carro novo em 10% a 12%, ou seja, de US$ 3.000 a US$ 5.000.

As pequenas empresas e os fabricantes também serão prejudicados. Uma pesquisa realizada em 2025 pela Federação Nacional do Varejo revelou que 74% dos varejistas dos EUA já aumentaram os preços ou planejam fazê-lo devido às tarifas, sendo que muitos já estão lutando para absorver os custos crescentes de matérias-primas importadas, como aço e alumínio. O setor agrícola dos EUA também está se preparando para grandes perdas depois que a China, o maior comprador de produtos agrícolas dos EUA, anunciou tarifas retaliatórias sobre as importações dos EUA.

ILUSÃO DE JUSTIÇA “RECÍPROCA”

Os defensores das “tarifas recíprocas” argumentam que o governo dos EUA está aproveitando a ferramenta para lidar com barreiras comerciais desiguais. Essa lógica ignora as diferenças fundamentais nas estruturas do comércio global, uma vez que as disparidades tarifárias não são o principal fator do déficit comercial dos EUA. Elas refletem fatores estruturais como a demanda do consumidor, as avaliações da moeda e as cadeias de suprimentos globais, e não apenas as taxas tarifárias.

Problemas complexos, como os desequilíbrios comerciais, exigem soluções abrangentes. Medidas simplistas e contundentes, como a imposição de tarifas, só complicam ainda mais a situação. Quando os Estados Unidos impuseram tarifas sobre os produtos chineses no início deste ano, a China retaliou atacando a soja, o milho e o gás natural liquefeito dos EUA, o que custou aos agricultores US$ 1,2 bilhão em perda de receita em poucos meses.

A premissa falha da “reciprocidade” também ignora o sistema baseado em regras da OMC, que fornece mecanismos para a resolução de disputas. Ao contornar esses enquadramentos legítimos, os Estados Unidos estão minando o multilateralismo e provocando retaliações de países ao redor do mundo.

As consequências de longo prazo das tarifas são terríveis até mesmo para os próprios Estados Unidos. O FMI adverte que o PIB global pode encolher 0,8% até o final de 2025, com a economia dos EUA arcando com uma parcela desproporcional das perdas. Tarifas elevadas interrompem as cadeias de suprimentos, forçando as empresas a pagar mais pelas importações ou a realocar a produção, um cenário que corrói a competitividade dos EUA.

As tarifas sobre o aço e o alumínio saíram pela culatra. Embora tenham o objetivo de proteger os produtores nacionais, essas tarifas, em vez disso, aumentaram os custos para os setores de downstream, como construção e manufatura. Um relatório de 2025 da Câmara de Comércio dos EUA constatou que 75.000 empregos em setores que utilizam metais estão em risco devido ao aumento dos preços dos insumos.

AMEAÇA À ESTABILIDADE GLOBAL

As guerras tarifárias dos Estados Unidos são especialmente desestabilizadoras, pois a economia global ainda está em um momento de maior fragilidade. A OMC previu que o crescimento do comércio global diminuiria para 3% em 2025, ante 3,3% em 2024, devido ao aumento do protecionismo.

Essa desaceleração prejudica desproporcionalmente as nações em desenvolvimento, que dependem das exportações para financiar o desenvolvimento e a redução da pobreza. As economias africanas estão perdendo terreno. Países como a Nigéria e o Quênia, que exportam têxteis e produtos agrícolas para os Estados Unidos, podem ter acesso reduzido ao mercado, pois as tarifas desviam o comércio para fornecedores de custo mais alto.

A ação climática também será prejudicada. As tarifas sobre tecnologias de energia limpa, como painéis solares e veículos elétricos, estão dificultando a transição para a energia renovável e ameaçando as metas climáticas globais.

Até mesmo figuras de destaque nos Estados Unidos reconhecem a insensatez: a ex-secretária do Tesouro, Janet Yellen, alertou que as tarifas “prejudicam nossa capacidade de combater a inflação” ao aumentar os preços ao consumidor e reduzir a eficiência econômica.

As tarifas são um imposto oculto sobre os consumidores. Os Estados Unidos deveriam abraçar essa verdade, abandonar a lógica autodestrutiva das “tarifas recíprocas” e voltar a participar da comunidade global na promoção de um sistema comercial justo e baseado em regras, que beneficie todas as nações, e não apenas alguns poucos privilegiados.

Nota do editor: Xin Ping é comentarista de assuntos internacionais, escrevendo regularmente para a Agência de Notícias Xinhua, Global Times, China Daily, CGTN, etc. Ele pode ser contatado pelo e-mail xinping604@gmail.com.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente as posições da Agência de Notícias Xinhua.

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