China acelera na inovação e se aproxima dos líderes globais

Créditos: Xinhua - Jornalistas reagem com um robô humanóide biônico no Centro Internacional de Inovação de Zhongguancun, o novo local do Fórum Zhongguancun (Fórum ZGC), em Beijing, capital da China, em 24/4/2024

China segue sua marcha rumo ao desenvolvimento de alta qualidade. O país acaba de escalar mais uma posição no Índice Global de Inovação (GII, da sigla em inglês) 2024 e passa a ocupar o 11º lugar no ranking das economias mais inovadoras do mundo. Também continua sendo a única economia de renda média entre as 30 primeiras da lista.

O GII 2024 foi divulgado no dia 27 de setembro pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Desde a primeira edição do índice, divulgada em 2007, a China tem subido constantemente em várias classificações desse ranking.

Durante coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China realizada nesta terça-feira (15), em Pequim, a porta-voz Mao Ning ressaltou que o relatório deste ano mostra que a potência asiática é um dos países que mais subiram no ranking nos últimos 10 anos.

O país lidera a lista com o maior número de polos de ciência e tecnologia (C&T) entre os 100 principais, o que demonstra um forte impulso e amplas perspectivas para o desenvolvimento impulsionado pela inovação, destacou a porta-voz.

“A melhoria da capacidade de inovação da China é resultado do aumento dos gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e da cooperação internacional aberta e inclusiva”, explicou Mao.

Segundo estatísticas, os gastos com P&D na China totalizaram mais de 3,3 trilhões de yuans em 2023 (cerca de 452,1 bilhões de dólares), um aumento de 8,4% em relação ao ano anterior.

A potência asiática, informa Mao, estabeleceu relações de cooperação científica e tecnológica com mais de 160 países e regiões, e assinou 118 acordos intergovernamentais de cooperação científica e tecnológica. 

“A inovação científica e tecnológica da China serve tanto aos interesses do país quanto aos do mundo. Diante da nova revolução científica e tecnológica, estamos prontos para trabalhar com outros países para promover a cooperação científica e tecnológica aberta e inclusiva, compartilhar os resultados da inovação científica e tecnológica e enfrentar conjuntamente os desafios globais”, encerrou Mao.

O ambiente favorável à inovação e os ricos recursos humanos na China têm atraído um número cada vez maior de empresas multinacionais a estabelecer centros de P&D no país, ressaltou a porta-voz..

Leia aqui o relatório completo (em inglês)

Escalada da China em inovação

A ascensão da China no Índice Global de Inovação é resultado de uma combinação de políticas econômicas, educacionais e tecnológicas bem coordenadas, todas focadas em transformar a economia chinesa em uma potência de inovação.

O forte apoio governamental em P&D, a promoção de clusters de inovação, a atração de talentos globais e a colaboração internacional desempenharam um papel central na posição de liderança da China no cenário global de inovação.

Plano “Made in China 2025”

Em maio de 2015, o governo chinês anunciou o plano “Made in China 2025“, uma estratégia focada na modernização industrial e no fortalecimento das capacidades de fabricação de alta tecnologia da China. O objetivo era tornar a potência asiática autossuficiente em setores estratégicos, como robótica, biotecnologia, inteligência artificial, veículos elétricos, aeroespacial e semicondutores.

O “Made in China 2025” foi alinhado ao 13º Plano Quinquenal (2016-2020), que adotou as suas metas para transformar a manufatura tradicional em uma indústria de alta tecnologia, aumentar a proporção de valor agregado na economia e fortalecer a capacidade de inovação.

O plano foi identificado como uma peça central no esforço da China para subir na cadeia de valor global, e priorizado como uma área-chave de desenvolvimento nos documentos oficiais do 13º Plano Quinquenal. Para alcançar as metas do “Made in China 2025”, foram incluídos incentivos fiscais, financiamento em P&D, apoio a startups tecnológicas e cooperação internacional em áreas de inovação de ponta.

No 14º Plano Quinquenal (2021-2025), a estratégia “Made in China 2025” continuou sendo um componente importante. A inovação tecnológica e a autossuficiência em setores estratégicos foram ainda mais enfatizadas, com destaque para o papel da inovação como o principal motor do crescimento econômico da China. Esse plano reforçou a necessidade de “autossuficiência tecnológica” e incorporou diretamente os objetivos do “Made in China 2025”, especialmente diante de tensões comerciais e tecnológicas com outras potências globais.

Com a crescente ênfase em tecnologias emergentes, como inteligência artificial, 5G, big data e computação quântica, os objetivos do “Made in China 2025” foram amplamente integrados ao foco do 14º Plano Quinquenal em inovação de alta qualidade e desenvolvimento sustentável.

Aumento dos Investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)

A China tem aumentado constantemente seus investimentos em P&D, como parte de seu esforço para liderar em inovações tecnológicas. De acordo com o 14º Plano Quinquenal, o governo enfatiza a inovação como o motor principal do crescimento econômico. O objetivo é aumentar a intensidade de P&D para 2,5% do PIB até o final de 2025 ao promover a criação de novos polos de inovação e estimulando a competitividade tecnológica.

Iniciativa de Clusters de Inovação

A China tem incentivado o desenvolvimento de clusters de inovação em várias cidades, como Pequim, Shenzhen, Xangai, Guangzhou e Suzhou. Esses clusters reúnem universidades, centros de pesquisa, empresas de tecnologia e startups, criando um ecossistema dinâmico que facilita a colaboração entre academia, governo e o setor privado. O governo apoia esses clusters com infraestruturas de ponta e incentivos fiscais, permitindo que se tornem polos globais de ciência e tecnologia.

Estratégia de “Inovação-Impulsionada”

No Relatório de Trabalho do Governo de 2021, a liderança chinesa reiterou a necessidade de impulsionar a inovação como parte do desenvolvimento econômico de alta qualidade. Essa estratégia inclui a priorização de áreas-chave como a inteligência artificial, computação quântica, big data e ciência da vida. Além disso, a China tem buscado atrair talentos globais e promover a educação STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) para reforçar sua força de trabalho de inovação.

Estratégia Nacional de Desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA)

Lançada em 2017, a Estratégia de IA da China visa tornar o país líder mundial em IA até 2030. O governo tem investido massivamente em pesquisa, infraestrutura e aplicações de IA, estimulando o desenvolvimento de algoritmos avançados, aprendizado de máquina, IA aplicada a setores como saúde, automação industrial e segurança.

Parcerias Globais de Inovação

A China tem estabelecido e fortalecido suas parcerias internacionais em ciência e tecnologia, o que tem contribuído para o crescimento de sua base de conhecimento e capacidades tecnológicas.

De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia da China, o país assinou 118 acordos intergovernamentais de cooperação em ciência e tecnologia com mais de 160 países e regiões. Esses acordos facilitam a troca de conhecimentos e tecnologias de ponta, além de atrair mais investimentos internacionais para os setores de P&D.

Plano Quinquenal para o Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia (2021-2025)

Este plano enfatiza a importância de “autossuficiência tecnológica” e “inovação original”. O governo pretende reduzir sua dependência de tecnologias estrangeiras, particularmente em áreas estratégicas como semicondutores e biotecnologia.

O documento também inclui metas de desenvolvimento de novas infraestruturas tecnológicas e incentiva a inovação em campos emergentes, como energia renovável e veículos elétricos.

Estabelecimento de instituições de pesquisa avançadas

A China tem criado novos institutos de pesquisa focados em áreas de vanguarda, como a Academia Chinesa de Ciências, que está entre os maiores e mais avançados centros de pesquisa do mundo. Além disso, o governo promove a integração entre institutos de pesquisa, universidades e empresas privadas para acelerar o desenvolvimento e comercialização de inovações tecnológicas.

Educação de alta qualidade e capacitação de talentos

O governo chinês tem focado na educação de alta qualidade, especialmente em áreas científicas e tecnológicas. O Plano Nacional de Educação de Longo Prazo (2010-2020) estabeleceu metas para aumentar a participação em educação superior, especialmente em áreas STEM. Universidades chinesas, como Tsinghua e a Universidade de Pequim, estão entre as mais prestigiadas em ciências e engenharias, formando uma geração de pesquisadores e inovadores que impulsionam o crescimento do país.

Trajetória da China no Índice Global de Inovação

A trajetória da China no GII, desde o seu lançamento em 2007, reflete uma ascensão significativa que destaca o país como uma potência global em inovação.

2007-2010: Fase Inicial

Nos primeiros anos da publicação do GII, a China começava a construir sua infraestrutura de inovação. Durante esse período, o país ainda não estava entre os líderes globais e figurava em posições modestas no ranking. No entanto, os esforços do governo chinês em estabelecer uma base sólida de pesquisa e desenvolvimento (P&D), além de investimentos em tecnologia, começaram a surgir. Nessa fase, a China começou a enfatizar o desenvolvimento de um ambiente de negócios mais propício à inovação, com o lançamento de planos quinquenais voltados à ciência e tecnologia.

2011-2014: Progresso Consistente

Entre 2011 e 2014, a China começou a subir de forma consistente no GII. Em 2011, a China já estava na 29ª posição e consolidava seu status como uma das economias emergentes que mais se destacavam em termos de inovação. O foco em áreas como educação, P&D e infraestrutura tecnológica foi crucial para esse avanço. Durante esses anos, a China começou a se aproximar das 20 principais economias no índice, graças a seus investimentos crescentes em tecnologia e ao fortalecimento de políticas de inovação.

2015-2017: A Chegada ao Top 20

Em 2015, a China alcançou um marco importante ao figurar pela primeira vez entre as 20 principais economias inovadoras do mundo. O ano de 2016 foi especialmente relevante, pois a China foi o primeiro país de renda média a integrar o Top 25, posicionando-se na 25ª posição. O sucesso foi atribuído ao crescimento de clusters de inovação, como o de Shenzhen-Hong Kong-Guangzhou, que se tornaram centros globais de tecnologia e inovação. Além disso, o governo implementou políticas específicas para apoiar startups e pequenas empresas de alta tecnologia, consolidando ainda mais seu avanço.

2018-2020: Inovação de Classe Mundial

A partir de 2018, a China começou a solidificar sua posição como uma das nações mais inovadoras do mundo, chegando ao 17º lugar no ranking. Nesse período, o país continuou a liderar em patentes internacionais, publicações científicas e investimentos em P&D. A China também começou a liderar em vários indicadores de inovação, incluindo exportações de alta tecnologia e crescimento de empresas inovadoras. Além disso, o governo chinês investiu fortemente em inteligência artificial, biotecnologia e ciência de dados, áreas vistas como críticas para o futuro da economia global.

2021-2023: A Caminho do Top 10

Entre 2021 e 2023, a China consolidou sua posição no Top 15, alcançando o 12º lugar em 2022. A essa altura, a China já havia se estabelecido como a única economia de renda média entre as 30 principais no índice, o que a diferenciou de outras nações em desenvolvimento.O país também liderou em termos de clusters de ciência e tecnologia, com centros como Pequim e Xangai-Suzhou se destacando entre os maiores do mundo.

2024: Próxima do Top 10

Em 2024, a China subiu mais uma posição, alcançando o 11º lugar, aproximando-se do Top 10 global. A China manteve sua liderança como o país com o maior número de clusters de ciência e tecnologia no Top 100 mundial, e seu modelo de inovação impulsionado pelo estado continuou a render frutos, com investimentos crescentes em P&D, cooperação internacional em ciência e tecnologia, e políticas que favorecem a inovação aberta e colaborativa.

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